Poucos dias depois do Ano Novo, acaba o tempo litúrgico do Natal. Depois de umas semanas, já vêm o carnaval e a Quaresma. Como viver até a Páscoa? A propaganda fala de outras coisas, mas nunca do sentido da quaresma.
São 40 dias, número bíblico simbólico da libertação do povo que fugia do Egito, guiado por Deus e por seu profeta Moisés e depois por seu sucessor, Josué. Também quarenta dias de jejum e oração, no deserto, prepararam Jesus Cristo para sua missão de salvador. Venceu as tentações do demônio, que lhe sugeriu formas demagógicas de se apresentar ao povo judeu (dar bolsa-família, comida de graça, populismo, exibição dos políticos como pais e mães dos brasileiros, etc.). O ministério de Jesus começou com o milagre das bodas de Caná, quando então aceitou a sugestão de sua Mãe e fez seu primeiro milagre, o primeiro sinal, de que fala o Evangelho de São João.
E Cristo vai apresentar-se na sinagoga de Nazaré como o salvador prometido por Deus e mandado à humanidade como Messias, ungido de Deus, feito nosso salvador e modelo.
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É muita coisa que meditar, compreender, tentar incorporar à nossa vida e concretizar no trato com os outros. A isto vamos consagrar os 40 dias da Quaresma, com suas missas, as procissões, os dias de abstinência de carne e jejum, a nossa confissão individual, o esforço de conversão sincera e de mudança de rumos em nossa vida.
E ali no portão de entrada do estacionamento em frente a igreja do Caraça, uma imensa quaresmeira, multiplicada nos morros e nas montanhas dos vales do Santuário, está roxíssima, lembrando-nos a penitência, o sacrifício, a adesão ao programa de vida que Cristo nos propôs, a vergonha na cara, a retidão, tão necessárias no Brasil de hoje. Não vai faltar assunto para as rezas… A via-sacra, os sermões da semana santa e as procissões, que deverão ser autênticas passeatas de pessoas comprometidas com a dignidade humana, com os direitos dos pobres e oprimidos, com a vocação brasileira de sermos um povo trabalhador, feliz, reto, esforçado, consciente, dono de si: Nem vai dar tempo para tudo isso, só quarenta dias…
A Campanha da Fraternidade, este ano, fala do cuidado de nossa Casa comum, do mundo em que vivemos. O tema é: “Casa comum, nossa responsabilidade.” O lema é: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Profeta Amós 5, 24). A Campanha deste ano será ecumênica, motivando todas as igrejas e todos os movimentos religiosos para a responsabilidade comum e a ação consequente nesse mundo sofrido em que estamos vivendo. Correr a justiça como um rio que não seca: até parece que estamos falando dos desastres ocorridos em nossa região e de suas consequências em âmbito estadual e nacional, com o envenenamento do próprio mar…
Legenda: Quaresmeira no Santuário do Caraça e a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Lembrança penitencial de sacrifício e retidão.
Padre Lauro Palú, C.M.