No dia 22 de fevereiro deste ano, o Santuário do Caraça recebeu a loba Mona Lisa, que veio acompanhada da veterinária Dra. Carla Sassi e seu esposo, e a equipe da Polícia Militar de Meio Ambiente, dos comandos de Conselheiro Lafaiete e Barão de Cocais, Minas Gerais.
Foi uma negociação criteriosa entre o Diretor Presidente, Pe. Lauro Palú, C. M., e a bióloga Aline Abreu, ambos do Santuário do Caraça, a veterinária Dra. Carla Sassi, do município de Conselheiro Lafaiete, o analista ambiental do IBAMA Daniel Vilela, e a Polícia Militar de Meio Ambiente (Barão de Cocais e Conselheiro Lafaiete).
A loba Mona Lisa, vítima de atropelamento na região de Ibirité, chegou à sede do IBAMA em Belo Horizonte, em estado gravíssimo.
A veterinária Dra. Carla Sassi, conhecida no Brasil pelo seu engajamento em prol do resgate de animais vítimas de traumas, e com grande experiência em salvamente de animais silvestres, aceitou a nobre missão de salvar a vida dessa loba.
A loba Mona Lisa foi levada para o município de residência da veterinária, Conselheiro Lafaiete, MG.
A Dra. Carla Sassi que atua no Centro de Controle de Zoonose, além de fazer todos os exames clínicos necessários à loba, levou o animal para um sítio na periferia da cidade, para acompanhar sua evolução dia e noite.
Chegando o 15º dia de tratamento, e com ótima resposta de recuperação, a veterinária retomou o contato com o IBAMA para preparar a soltura do animal em local protegido.
Foi nesse momento que surgiu a ideia de soltá-la na região do Santuário do Caraça, local conhecido carinhosamente como “o lar dos lobos-guará”.
Em diálogo com o Pe. Lauro e a bióloga Aline, a ideia foi muito bem aceita, considerando-se o fator importantíssimo da variabilidade genética do animal.
O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é uma espécie conhecida como territorialista, um casal por território. O acasalamento se dá em abril e maio. Sabemos disso porque o tempo do acasalamento é quando o macho e a fêmea começam a andar juntos. Inclusive sobem até a Igreja e comem juntos na bandeja. A gestação é de 62-65 dias. Os filhotes, de 1 a 3, nascem cinza escuros e são escondidos em buracos, às vezes de cupinzeiros, para ficar mais protegidos. Por 2-3 meses, são alimentados pelos pais, que regurgitam alimento para eles. Depois começam a fazer pequenas caminhadas com a fêmea, geralmente, até que no 5º-6º mês começam a aprender a caçar e, no Caraça, começam a aprender a subir a escadaria da Igreja.
Quando chegam à maturidade sexual, os machos após um ano, as fêmeas uma ano e meio, é como se esquecessem a relação de parentesco e ficasse apenas a noção de gênero. Aí precisam disputar o território. Os machos lutam entre si e as fêmeas lutam entre si. Os que vencem dominam o território e expulsam os demais, que vão procurar outros campos de cerrado para sobreviver. O filhote pode acasalar com a mãe, o irmão com a irmã, o pai com a filha, conforme a dupla vencedora nas disputas pelo território.
Sendo assim, a partir do momento em que a loba foi solta, é normal na espécie que passe a disputar o macho e o território.
Seguindo as orientações técnicas da veterinária e do IBAMA, a loba, ao chegar ao Santuário do Caraça, foi levada para um cômodo no fundo da horta, para ser monitorada por 3 dias, procedimento chamado de quarentena.
Acompanhada pela veterinária, a loba recebia uma refeição por dia, por volta das 18h.
A veterinária permanecia acordada até às 5h da madrugada, como fez por 15 dias no sítio onde o animal se recuperou.
Devido às lesões sofridas, a loba é facilmente identificada. Tem um focinho mais escuro, se comparada à loba que ocupa o território no Santuário do Caraça, e sua orelha esquerda é um pouco “caída”.
A soltura da loba Mona Lisa em vida livre ocorreu no dia 24, às 4h da madrugada, após a confirmação que o animal estava em bom estado de saúde e capaz de retomar sua vida selvagem. A Dra. Carla revelou que “foi um momento muito lindo, mas com um sentimento de aperto no coração”.
Por enquanto, não foi registrado nenhum indício de briga entre as lobas, comportamento comum da espécie.
Ressaltamos nesta reportagem, que este procedimento deve ser muito criterioso, não sendo permitido fazer soltura de nenhuma espécie sem o acompanhamento de profissionais e sem o aval do órgão ambiental competente.
Nota: A Dra. Carla Sassi participou juntamente com o Dr. Jean Ciarallo, também veterinário de Conselheiro Lafaiete, nas tentativas de captura, em 2012, da loba Beta, que teve um tumor no pescoço.
Um procedimento muito bem sucedido!!!
O nosso agradecimento a todas as pessoas envolvidas na recuperação e soltura da loba Mona Lisa.
A Direção do Santuário do Caraça.