Dia 7 de agosto deste ano de 2017, faleceu em Belo Horizonte o Irmão Thomaz Glenski, que trabalhou no Caraça durante 23 anos e foi muito conhecido dos seus hóspedes e visitantes.
O Irmão Thomaz nasceu em Irati no sul do Paraná, em 1924, no dia 28 de dezembro, quando a Igreja celebra na liturgia a festa dos Santos Inocentes, aqueles meninos que Herodes mandou matar, quando soube que havia nascido o Messias que os magos estavam procurando para adorá-lo como o novo Rei de Israel… Durante toda a sua vida, o Irmão Thomaz comemorava seu aniversário, logo depois do Natal, e ouvia as mesmas brincadeiras. Neste ano, repetiu-se a alusão, mas nada em termos de brincadeira.
Na missa de corpo presente, na Casa Dom Viçoso, onde o Irmão Thomaz viveu os últimos 13 anos de sua vida bem vivida (chegou aos 92 anos e meio…), o Celebrante principal e o pregador da liturgia foi o Pe. Getúlio Mota Grossi, que foi muito feliz, muito carinhoso e muito amigo, ao comentar a vida, a personalidade, os trabalhos, as virtudes do Irmão e a lembrança rica e preciosa que ele deixou para os Padres e os outros Irmãos da Província e da Congregação em que ele se realizou como religioso e servo fiel de Deus.
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Padre Getúlio comentou que o Irmão Thomaz morreu com a inocência batismal. É uma expressão muito conhecida e muito feliz, mas que a gente pode usar muito raramente, porque não são assim tão comuns as pessoas de que, quando morrem, não nos lembramos de alguma coisa ruim, algum fato desagradável, em que o falecido tenha ofendido, prejudicado, marginalizado, escandalizado alguém. Contam de Santo Agostinho, que tinha tido uma adolescência e uma juventude acidentada e bastante atormentada e pouco séria, que, depois do batismo, que recebeu aos 30 anos, nunca mais se confessou, por ter levado extremissimamente a sério o seu compromisso com Deus. Pois, do Irmão Thomaz, nem isso teríamos para contar, porque com seus 18 nos, em 1941, já estava no Seminário São Vicente, em Petrópolis, onde faria o Noviciado, sua iniciação na vida consagrada como discípulo e seguidor de São Vicente de Paulo. E sua vida de consagrado a Deus foi sempre muito regular e observante. Em 1944, fez a Deus os votos de pobreza, castidade e obediência e de dedicar-se, durante toda a sua vida, na Congregação de São Vicente de Paulo, ao serviço dos Pobres.
Como Irmão, o Thomaz não era Padre, não celebrava a Missa nem podia perdoar os pecados em confissão. Mas toda a sua vida foi consagrada à oração, ao trabalho manual e apostólico, à ajuda ao próximo em suas necessidades. Assim, durante o Noviciado, fez os cursos de enfermeiro e de alfaiate e até o tiro de guerra. Ficou em Petrópolis até 1968, como alfaiate, muito conhecido e apreciado pela elegância das batinas que fazia, com o capricho que o caracterizou. De 1968 até 1972, trabalhou em Belo Horizonte como atendente numa loja que a Província abriu para a venda dos produtos de uma granja de frangos na região metropolitana da Capital. Depois foi deslocado para o próprio setor produtivo, na Fazenda São José, em São José da Lapa. De lá, saiu em 1981, para trabalhar no Santuário do Caraça, onde ficou até 2004, quando se retirou para a Casa dos Idosos, em Belo Horizonte.
Tinha tino comercial, na simplicidade de sua formação e de seu caráter. O pregador disse que ninguém nunca teria ouvido o Irmão Thomaz falar mal de alguém. Talvez de fato não, nunca ofendeu ninguém por nervosismo, rabugice ou impaciência. Mas tinha suas “raivinhas”, de que nós ríamos, a partir dos “nomes feios” que xingava: lembro-me de dois deles, huguenote e mameluco (a bem da verdade, não era bem mameluco, mas disfarcei um pouco…).
Foi também uma espécie de caixeiro viajante, durante muitos anos, pois ia ao Rio de Janeiro, a São Paulo, vinha a Belo Horizonte, para comprar terços e medalhas, santinhos e novenas, que ajudava a vender por onde passava e onde morou. A lojinha do Caraça conheceu seu bom gosto e seu cuidado. Era habilidoso no fazer terços de contas muito escolhidas e vistosas.
Nos últimos anos de sua abençoada existência, na Casa dos Idosos, era fiel às horas de oração, às celebrações, sempre nos bancos da frente na capela, paciente com as enfermeiras e as cuidadoras, delicado, pedindo e agradecendo seus serviços com humildade, voz mansa e sorriso extremamente bondoso. Último irmão de sua Família do Paraná, foi visitado uns dias antes de sua morte por uma cunhada e um sobrinho. Talvez nem os tenha reconhecido, já definitivamente esgotado. Mas todos nós que o conhecemos e admiramos suas virtudes simples e humildes, sabemos que agora reza por nós e nos protege. Esse temos certeza de que já descansa na paz infinita de Deus.
Pe. Lauro Palú, C. M.