Estudei quatro anos no Caraça, quando menino. Tive vivências incríveis, como a adoração do Santíssimo Sacramento, na noite de Quinta para Sexta-Feira Santa. Outras surpresas eram os cantos polifônicos que ensaiávamos mais de mês. As cerimônias todas em latim, que cantávamos muitas vezes ainda sem entender tudo. O cheiro do incenso. Os carvoeiros que estavam queimando as matas do Caraça (década de 1950) e passavam a tarde na igreja, esperando a vez de se confessar.
Guardei toda a vida a alegria feliz daquelas Semanas Santas, preparadas com capricho, celebradas com gosto e beleza, frutuosas pelo tempo que levávamos rezando e prometendo mudar de comportamento, ser mais atentos nas missas, mais generosos nas confissões e mais corajosos nas penitências.
Hoje, sou eu que presido as celebrações no santuário, enquanto os outros Padres animam as Comunidades da Baixada, de Santana do Morro a Barra Feliz (e mais duas para os lados de Conceição e São Gonçalo do Rio Acima). A assembleia litúrgica, às vezes, é muito numerosa, dependendo dos hóspedes que conseguiram vagas. Se vieram para as cerimônias, participam muito atentos e com fruto. Se vieram porque conseguiram vaga nos feriados, às vezes vão ficar só passeando ou conversando e bebendo na cantina e acabam nem aparecendo na capela.
Dando um sentido muito comunitário, político, social, engajado e verdadeiramente cristão às cerimônias, temos a procissão do domingo de Ramos, que, nos nossos folhetos, às vezes aparece com motivação muito concreta: acompanhando Cristo na sua entrada em Jerusalém, fazemos uma verdadeira passeata, para marcar a presença de Deus em nossas cidades, para pedir que os valores propostos por Cristo sejam assumidos pela sociedade, pelos governantes, pelos cidadãos. E é impressionante como a multidão que, no domingo, aclamava Jesus como o Messias prometido por Deus, já na sexta-feira vai gritar, pedindo que Pilatos o mande crucificar. Chamo a atenção para as técnicas disfarçadas da manipulação e da demagogia, a força da propaganda, o perigo de ir pela cabeça dos outros. Chamo a atenção para a coragem que precisamos ter para dar testemunho de Cristo, sem recuar e trair na hora das dificuldades, em nossa vida, na família, na sociedade, para que Cristo de fato ressuscite em nosso coração, em nossos ambientes, em nossa vida.
Pe. Lauro Palú, C.M.