Catas Altas – A primavera no Santuário do Caraça está de flores e portas abertas para receber visitantes interessados em aguçar os cinco sentidos e se integrar à natureza plena . Na reserva ambiental que se estende por Catas Altas e Santa Bárbara, na Região Central de Minas, a 106 quilômetros de Belo Horizonte, o canto dos pássaros faz a trilha sonora para brasileiros e estrangeiros conhecerem construções históricas iniciadas no século 18, curtir jardins e trilhas, saborear doces e bebidas e ver de perto o lobo-guará recebendo alimento das mãos dos padres lazaristas.
Em cada canto, uma surpresa, a cada instante nova descoberta , para, no conjunto da obra, deixar fluir os melhores sentimentos e criar sintonia fina com a paisagem deslumbrante. Nesta estação ainda penalizada pela pandemia, o santuário da Província Brasileira da Congregação da Missão mantém limitado o acesso para visitação e hospedagem, bem como fechados alguns setores, embora sem deixar de encantar, por meio do patrimônio cultural, ambiental e espiritual, todas as gerações.
Segundo o diretor do Santuário do Caraça , padre Luís Carlos do Vale, são recebidas, nos fins de semana, 400 pessoas, sem necessidade de agendamento, pois a entrada ocorre por ordem de chegada. Para hospedagem, torna-se obrigatório fazer reserva (veja o serviço na página 13). A fim de evitar aglomeração, as visitas ao museu, necessariamente guiadas, devem ser marcadas com antecedência.
“Ainda estamos comemorando os 200 anos da chegada dos primeiros missionários lazaristas a Minas, e o Caraça foi a primeira casa da congregação no Brasil”, conta o padre Luís Carlos diante do monumento, ao lado do museu, que homenageia o feito de 1820. As esculturas recriam os ex-diretores dom Antônio Ferreira Viçoso (1787-1875) e o padre Leandro Rebello Peixoto e Castro (1781-1841) acolhendo um jovem seminarista.
Na lista dos grandes acontecimentos, há dois destaques em 2021 referentes a dois imperadores: os 190 anos da visita de dom Pedro I (1798-1834) e os 140 anos da do filho dele, dom Pedro II (1825-1891). Na companhia do padre Luís Carlos, a equipe do EM conheceu a suíte imperial, onde o casal dom Pedro I e dona Amélia ficou hospedado em 1831, e traz na parede os retratos de ambos.
Já no museu, que ocupa parte da construção destruída por um incêndio em 1968, encontram-se as camas onde dormiram, em 1881, dom Pedro II e dona Teresa Cristina. No espaço, há objetos pertencentes ao colégio, que funcionou de 1820 a 1912, e depois ao seminário (até 1968). A partir de 1972, o Caraça se abriu ao turismo. Em tempos normais, recebe milhares de pessoas de mais de 30 países com destaque para França, Estados Unidos e Alemanha. Em 2019, foram registrados 70 mil visitantes e 22 mil hóspedes.
CAPELA Para a equipe de reportagem, foi grata surpresa conhecer, no claustro, a capela com as imagens de Nossa Senhora da Vitória, São José e São Vicente e o púlpito pintado por Antônio da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde (1762-1830), expoente da arte colonial mineira. O diretor explicou que aquele espaço, aberto à visitação, foi o quarto do fundador do Caraça, o português Carlos Mendonça Távora, conhecido como Irmão Lourenço de Nossa Senhora – não há registro da data de nascimento, apenas de sua morte, em 1819.
De acordo com as pesquisas, o Irmão Lourenço, tido e havido como um homem misterioso, pois sua identidade nunca foi esclarecida, chegou à região em 1763. Pertencente à família Távora, nobre, ele teria escapado ao extermínio comandado pelo Marquês de Pombal, em Portugal, depois de um atentado ao rei dom José I. O certo é que, 11 anos depois, ele inaugurou uma pequena capela em estilo barroco, da qual restam dois altares, restaurados, nas laterais da igreja que se vê hoje – datada de 1883, a substituta é considerada a primeira neogótica do Brasil.
Nas segundas e terças-feiras, casais de noivos buscam a fachada da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens e os jardins, posando para o álbum de fotografias. Como casa religiosa, o santuário tem missas todos os dias. A beleza dos vitrais, presenteados por dom Pedro II, são atração à parte, assim como o quadro “Santa ceia”, pintado pelo Mestre Ataíde. Aos curiosos, uma dica: assim que começar a ver a tela, mirar o rosto de Judas e ver que os olhos dele vão acompanhá-lo até o fim do curto trajeto. É a técnica denominada “menina dos olhos”, que seduz à primeira vista e obriga a repetir a dose.
CORES E PERFUMES No jardim ao lado da igreja, os visitantes se integram mais à divina atmosfera do Caraça, sentindo o perfume das flores, apreciando as camélias, os manacás e plantas nativas. “Apaixonamos por este lugar. Tem muita história, está bem preservado, precisa ainda de mais divulgação”, disse a agente de viagens Cynara Miranda Pessoa, de Goiânia (GO), em sua primeira visita ao santuário. Na companhia do marido, Renato Passaglia, empresário, e dos pais, João Pessoa e Velma Miranda, aposentados, ela manifestou o desejo de voltar. “Agora, vamos para Ouro Preto”, informou, já com saudade.
Morador de Itabirito, na Região Central de Minas, o casal de namorados Rafael Augusto Souza de Oliveira, dono de restaurante, e Ianny Alves Góis de Moura, técnica em meio ambiente, aproveitou a folga na segunda-feira para conhecer melhor a região. Ianny, de 24 anos, também quer voltar para conhecer as cachoeiras, a exemplo da Cascatinha, que fica a dois quilômetros da recepção, e passear pelas trilhas. Rafael concordou e o desejo é chegar mais cedo para curtir cada recanto da área de conservação ambiental. Nos planos, o Banho do Imperador, a Ponte do Bode, o lago (Tanque Grande), a montanha que dá nome ao Caraça, na forma de um perfil, e outros atrativos. Para a visita aos picos, também é preciso guia credenciado; nos trajetos curtos e de fácil acesso, olho no mapa e nas placas de sinalização.
Algumas áreas são vedadas à visitação, a exemplo da adega, produção de doces e horta. Mas não custa nada contar o que se passa ali. Na primeira, estão os vinhos de uva, os fermentados de jabuticaba e o hidromel. “Vinho, só de uva…os demais são fermentados”, explica o diretor do Caraça. Vivendo e aprendendo, eis a melhor lição.
Na cozinha, a funcionária Marineide Crisóstomo, moradora do distrito de Brumal, em Santa Bárbara, revela o prazer de trabalhar num lugar tão tranquilo, enquanto prepara cocada e ambrosia. Na lojinha, os doces ficam à venda ao lado de bebidas (incluindo cervejas produzidas fora e com os rótulos do lobo-guará, anta e canarinhos), biscoitos, quitandas e pães, entre eles o brocojó, “antiga receita caraceana” recuperada pela especialista em pesquisas gastronômicas Vani Pedrosa.
DESTINO DE EMOÇÕES
1) Para ver
Lobo-guará é uma das atrações no cenário da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, a primeira em estilo neogótico do país
2) Ouvir
Canto dos pássaros, principalmente canarinhos, no meio da tarde. O som do silêncio faz bem ao viajante
3) Sentir
O perfume das flores dos jardins e das matas que circundam o santuário. Tem até planta com aroma de tutti-frutti, perto da Pedra da Paciência
4) Saborear
Doces, vinho de uva, fermentado de jabuticaba, hidromel, queijo, pães e quitandas. Atenção especial ao tradicional “brocojó”
5) Fazer contato
Com a natureza em estado pleno, podendo curtir cachoeira, andar em trilhas e contemplar a paisagem
Fonte: https://www.em.com.br/