Escrevo esta nota dia 1º de abril. Nestes três meses, já veio ao Caraça gente de 29 países, por exemplo, Austrália, Coreia, Angola, Luxemburgo, República Dominicana, de todos os continentes.
Mas há grupos muito especiais que sobem a serra: os pesquisadores, vindos de universidades do Brasil e do estrangeiro. Vêm em grupos, como os estudantes e professores de Tübingen, da Alemanha, ou sozinhos ou o casal.
E vêm para observar e estudar o quê? Certamente, as coisas mais inesperadas, de que o Caraça é rico e sempre surpreendente. Vêm os professores e alguns alunos, apresentados por suas universidades ou institutos de pesquisa, trazendo também as autorizações fornecidas pelos órgãos do governo, nas várias áreas de competência. Os projetos, normalmente, indicam a finalidade da pesquisa. Cito alguns casos recentes. Técnicos da Embrapa estiveram à procura de um minhocuçu, Rhinodrilus fafner, que, em 2003, pelo Ministério do Meio Ambiente foi dado oficialmente por extinto. Tinha sido encontrado em 1918 no bairro Gorduras, na periferia de Belo Horizonte, por Wilhelm Michaelsen, cientista alemão, e nunca mais foi visto (não por ser microscópico, pois media dois metros e dez centímetros!). Cem anos depois, ainda o procuram. E o notável é que o pesquisador subiu a Carapuça, aos seus 1.955 metros de altura, com pá e enxada, procurando o bicho. Só encontrou outra espécie, não a gigantesca. Outro naturalista nosso também a procurou lá em cima do Inficionado (2.068 metros de altitude). Eu o procuraria nalgum brejo… Reencontrá-lo agora, um século depois, será uma festa para a ciência e para os estudiosos.
Fui anotando, ao longo do primeiro trimestre, estas expedições: no campo da zoologia, busca desse minhocuçu, estudo da dieta das antas, da polinização de tipos especiais de imbés das matas por besouros, as vespas e abelhas que polinizam plantas ameaçadas de extinção; procura de caranguejos de água doce, procura de sapos e rãs de grupos determinados; professores da Alemanha, dos Estados Unidos e do Brasil, em grupos sucessivos, procurando nossas serpentes e nossos lagartos; grupo numeroso de observadores de aves, do AVISTAR, que tiveram a alegria de encontrar mais uma espécie de coruja, que ainda não estava na lista oficial das aves do Caraça. Foi avistada, gravada e fotografada, no Engenho, a Strix virgata, popularmente chamada coruja-do-mato, uma boa contribuição para alcançarmos, brevemente, as 400 espécies de aves na nossa Reserva Particular do Patrimônio Natural.
Outros pesquisadores estão estudando regularmente, com visitas sucessivas ou com permanência prolongada no Caraça, os macacos sauás (já apresentados em edições deste jornal), os sapos e rãs, os insetos em geral e grupos específicos como os besouros e, entre eles, os cerambicídeos, aqueles bonitos de antenas compridas, como os serra-paus. Outros se dedicam a buscas e estudos de botânica, procurando nossas bromélias, algumas orquídeas difíceis, musgos raros, um bambu específico (Aulonemia radiata).
Geólogos estão consolidando os mapas obtidos e interpretados pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela de Ouro Preto. Um deles termina a datação das serras do Caraça, pelo método radiométrico usando o zircão.
Pessoalmente me interesso muito em conversar com esses pesquisadores, por dois motivos. Primeiro, peço, quando possível, que tentem identificar as preciosidades de nossa riquíssima biodiversidade que venho fotografando há quase 20 anos (já estou com mais de 42.000 fotos digitais, sem nenhum retoque, como documentos científicos do que fui registrando). Segundo, com muito gosto me ofereço, quando os jovens mestrandos ou doutorandos falam de suas teses, para fazer uma revisão tipográfica (digitação pura e simples) e também gramatical, ortográfica… Em geral aceitam, mandam tudo de uma vez ou os capítulos que já estão prontos. Minha recompensa é ler os trabalhos com o máximo de atenção (garanto que muito examinador não lê tanto como o autor e eu revisor…), e acabo ficando com os textos, que depois serão publicados sabe Deus em que ano e em qual editora, se publicados…
Padre Lauro Palú, C.M.