O que mais fascina as crianças no Caraça é o lobo-guará. Muitos se encantam com o parquinho, os balanços, a gangorra, as escadas, os tubos para o equilibrismo. Mas o lobo tem a preferência. Depois da missa, de noite, uns se encantam com as pipocas, comidas ainda quentinhas com aquele salzinho que a Mamãe põe sem exagerar, e que a gente come sem pagar, quanto quiser. Mas o lobo ainda é o melhor.
A gente fica no adro da igreja, quando anoitece, os Pais conversando baixinho, a gente pequena sem poder gritar ou chorar alto, sem dar risadas altas, só esperando o lobo. E, de repente, ele aparece, às vezes, ainda lá em baixo, às vezes, de repente, já na escada, no topo da escada, ali, em carne e osso!
Com nosso lobo-guará acontece uma coisa muito importante, porque a criançada sempre pensa no lobo mau, dos desenhos, das revistas, das histórias. O Caraça contribuiu para a mudança da ideia do lobo, por causa de sua visita cada noite no adro da igreja. É a experiência mais longa, 33 anos, e mais bem sucedida, de educação ambiental em relação à figura e à “pessoa” do lobo.
De onde o lobo vem? Anda com quem? Come o quê? Tem casa ou toca para morar? Ele só abate o capim e deita em cima, para dormir? E quando chove, como é que faz? Onde se esconde? Se toma chuva, como faz para secar o pelo? Ele toma banho no rio? Como é que faz para ficar assim limpinho, com o pelo até brilhante? Lobo pega carrapato? Que outros bichos ele come, além de galinha?
Mas a pergunta que mais gente me faz, e não só crianças pequenas curiosas encantadas, mas também os adultos, doutores e professoras, médico e técnico de computador já perguntaram: Você já passou a mão no lobo? É que me veem falando com o lobo como se ele me entendesse e concordasse comigo, e pensam que é fácil encostar a mão no lobo…
De fato, dá mesmo vontade na gente, pois é um bicho bonito, elegante, solene e parece manso de verdade. Mas de vez em quando ele dá suas fugidas rápidas, quando alguém vem pisando mais duro na sala ao lado do adro, quando uma criança grita, quando um carro aparece de repente no estacionamento ou quando o alarme dispara num carro.
Eu só passei a mão no pelo daquela loba que estava com um tumor muito grande no pescoço e foi operada dia 7 de setembro de 2012, pelo Dr. Jean, veterinário de Conselheiro Lafaiete. Durante a operação, quando estava anestesiada, fotografei todas as fases da cirurgia (com o estômago embrulhando por causa dos cheiros da operação). Aí, aproveitei para passar a mão, sentir o seu pelo um tanto áspero, nada macio como cabelo de criança ou de avô ou avó.
E por que me perguntam se já pus a mão no lobo? Que dá vontade dá. Para as crianças, na hora do café da manhã, pergunto se você sonhou com o lobo. Em geral, não. E eu digo que perderam a oportunidade, pois no sonho, só no sonho, você pode montar no cangote do lobo, segurar aquelas duas orelhas e sair no galope, por aí, dando pulos e depois voltando para chegar de novo no adro da igreja. Às vezes a criança me olha com cara de quem não tinha pensado nisso e fica cismando.
Padre Lauro Palú, C.M.