Padre Leandro Rebelo Peixoto e Castro, C.M.

padre leandro2Padre Leandro Rebelo Peixoto e Castro, C.M.

Leandro Rebelo Peixoto e Castro nasceu no norte de Portugal, na Província do Minho, em 1781. Estudou no Seminário de Braga, onde defendeu sua tese de Filosofia em 1799 e a de Teologia em 1800. Entrou na Congregação da Missão em 1806, na Casa de Santa Cruz dos Guimarães. Após sua ordenação, foi professor de filosofia, literatura e matemática. Designado por seus superiores para o Brasil, não hesitou em atravessar o Atlântico para se enveredar pelo interior do país para o exaustivo trabalho das Missões.

Tendo partido de Portugal no dia 27 de setembro de 1819, chegou ao Brasil antes da virada do ano, acompanhado de seu coirmão e ex-aluno, Padre Antônio Ferreira Viçoso, C. M. No Rio de Janeiro, quando se apresentaram a Dom João VI, que os havia chamado para o Brasil, os dois Padres ficaram sabendo que as Missões da Capitania do Mato Grosso, para onde seriam enviados, estava ocupada por um Capuchinho.

Depois de algum tempo, o próprio Rei lhes ofereceu o Santuário do Caraça, no coração da Província de Minas, para que cumprissem o testamento do falecido Irmão Lourenço de Nossa Senhora, que o havia fundado e, antes de morrer, entregue à Fazenda Real para que não deixasse a obra sem Padres que pudessem dar-lhe continuidade.
Aceitando a nova Missão, depois das devidas licenças, empreenderam a difícil viagem até a Serra do Caraça, gastando pelo menos 2 meses, do Rio de Janeiro até seu destino. Chegaram ao Caraça no dia 15 de abril de 1820 e encontraram a Casa e a pequena Ermida praticamente abandonadas e em péssimo estado de conservação.

Depois de um tempo de arrumação e organização da Casa, Padre Leandro e Padre Viçoso se dedicaram à pregação de Missões em Catas Altas-MG, durante o mês de junho, e em Barbacena-MG, em parte do mês de julho. De Barbacena, Padre Leandro foi ao Rio de Janeiro apresentar-se ao Rei e dar seu parecer sobre as condições em que encontrou a propriedade do Irmão Lourenço. Desta visita, e como forma de ajuda, Dom João VI concedeu à Casa do Caraça o título de Casa Real, isentando-lhe de pagar os dízimos exigidos pela Coroa.

Algumas famílias do Rio de Janeiro, sabedoras da fama e do prestígio de célebre educador que o Padre Leandro já trazia de Portugal, pediram-lhe, por ocasião desta sua visita à capital, que educasse seus filhos, juntamente com seu companheiro, Padre Viçoso. E assim apresentaram-se e foram aceitos os quatro primeiros meninos com os quais o célebre Colégio do Caraça iniciaria sua missão educadora: Francisco de Paula, José Gularte, Manuel Maria de Lacerda e João Dinis.

Do Caraça, o Padre Leandro foi superior por duas vezes, de 1820 a 1827 e de 1834 a 1837. Foi em seu primeiro mandato que a Casa do Caraça recebeu do Imperador Dom Pedro I o título de Casa Imperial, podendo afixar em seu frontispício o brasão do Império e usar suas armas em seus carimbos e documentos. De 1827 a 1834, esteve em Congonhas do Campo-MG, como superior do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos. Neste tempo, fundou ali um importante Colégio, semelhante ao Colégio do Caraça e seguindo todos os seus ritmos e preceitos. Sua transferência para Congonhas tinha como objetivo salvar o Santuário, comprometido por péssimas condições administrativas. Como o Colégio do Caraça e as Missões eram muito bem feitas e administradas, o Império não titubeou em nomear os Padres do Caraça para o cuidado de Congonhas.

O documento imperial que enviou os Padres para lá é claro em seus termos: “1. Restabelecer a antiga devoção do povo por meio do Jubileu e instrução religiosa; 2. Criar e administrar um Colégio, em Congonhas, conforme o modelo do Colégio do Caraça, mas dele independente; 3. Entregar aos Padres toda a administração financeira dos rendimentos da Irmandade; 4. Fazer inventário dos bens da Irmandade”. A tudo isso, Padre Leandro se dedicou com afinco e especial interesse nos sete anos que ali viveu.

Mais uma vez dedicando-se à educação da mocidade e à estruturação das instituições educacionais, Padre Leandro pôde expandir seu zelo missionário para a formação da pátria brasileira. A partir de um relatório enviado ao Presidente da Província de Minas, Paulino Limpo de Abreu, em 1834, pelo Padre Leandro, pode-se perceber para quantos jovenzinhos este Missionário abriu as portas do conhecimento e da cultura: de 1820 a 1834, foram matriculados no Caraça 1535 alunos, e em Congonhas, de 1828 a 1834, 905.

Em 1838 foi transferido para a Corte, no Rio de Janeiro, e feito Vice-Reitor do Colégio Pedro II (1838-1839). No entanto, mesmo tendo apenas o título de Vice-Reitor, Padre Leandro assumiu todas as funções da direção do Colégio, já que o Reitor era o Bispo do Rio de Janeiro, já idoso e muito adoentado. O Imperial Colégio, fundado no dia 2 de dezembro de 1837, iniciou suas atividades apenas em março de 1838, depois da chegada do Padre Leandro.
Durante os dois anos que lá trabalhou, Padre Leandro elaborou o estatuto do Colégio, promoveu espetáculos no Teatro São Januário, obtendo recursos, com os quais fez a calçada e adquiriu novos terrenos para o recreio dos alunos e para o Jardim de História Natural. Ademais, pôs ordem e disciplina na Casa, colocou um sino na torre, para avisar o horário das aulas, e uma sineta para se tocar à chegada do professor. E no dia 2 de dezembro, dia do aniversário do futuro Imperador Dom Pedro II, o próprio Padre Leandro levou pessoalmente os alunos do Colégio para tributar ao jovem herdeiro do trono suas considerações e honras.

Ao mesmo tempo que se dedicava ao Colégio, Padre Leandro também tentava, por sua proximidade com a Corte, resolver o impasse da Congregação no Brasil. Neste tempo, as relações entre a Igreja e o Império estavam muito desgastadas e ainda havia, pela instabilidade própria do tempo da Regência e o anti-lusitanismo que começava a se formar no país, dificuldades de aceitar a ligação dos Padres com a Europa. Depois de muitas conversas e acertos, Padre Leandro conseguiu, junto ao Império, uma saída razoável: a independência da Congregação no Brasil, tendo, inclusive, um Superior Geral distinto do Superior Geral que vivia em Paris.
Assim, em dezembro de 1839, Padre Leandro e os demais Coirmãos estavam reunidos no Caraça para a 1ª Assembléia Geral da Congregação da Missão do Brasil, na qual elegeram o Padre Antônio Ferreira Viçoso para Superior Geral.

Padre Leandro, que nunca se deu bem com o clima da capital, voltou, então, para Minas, mas não para o Caraça, como era seu desejo, a fim de consumir seus dias no apostolado missionário e educacional. Seu destino, a pedido do próprio Governo, foi Ouro Preto-MG, a fim de fundar e organizar o Colégio Assunção. No dia 14 de abril de 1840, Padre Leandro escreveu ao Delegado da Santa Sé no Rio de Janeiro, Scipião Domingos Fabrini, dando notícias de sua transferência: “O Presidente e a Assembléia me laçaram, de modo que não pude evadir-me de aceitar, por algum tempo, o lugar de Reitor do Colégio Nacional para o abrir e lhe dar andamento. O Superior Maior condescendeu nisso com a vontade do Presidente, e por isso, por algum tempo, vou ficar em Ouro Preto, onde logro saúde… Eu sou incumbido de arranjar os Estatutos e o Regulamento interno do Pedro II e se me não tolherem as mãos, eu lhes porei aqui um outro Pedro II, como o deixei nesta Corte… Enfim, não pude evadir-me, apesar de ainda padecer dos incômodos que sofri nesta Corte…”.

Instado a se desinstalar e assumir esta nova missão em vista da educação da mocidade, Padre Leandro mais uma vez não hesitou em assumir este compromisso que o Governo lhe pedia. Foi, então, para Ouro Preto, para a difícil missão de fundar o primeiro colégio do Governo na Província de Minas.
Em Ouro Preto, com pequena melhora de sua saúde, em relação ao Rio de Janeiro, pôde se dedicar ao que lhe pediam as autoridades imperiais. Mas, um ano depois da fundação do Colégio Assunção, voltou sua doença de pele, tão comum nos trópicos. Isso exigiu do Padre Leandro um tratamento mais exigente e o uso de banhos em Santa Rita de São João Del Rei. Com certa melhora, voltou a Ouro Preto, mas logo foi novamente atacado pela enfermidade, agora com dores fortes e inflamação no peito. Lúcido até o último instante, tendo recebido os Sacramentos, ali morreu santamente, no dia 28 de agosto de 1841. Faleceu com 60 anos de idade e quase 22 anos no Brasil.

Em 1858, seus restos mortais foram transladados para o Caraça e hoje repousam nas Catacumbas da Igreja.

Assinatura do Padre Leandro num livro de contabilidade da Casa do Caraça, 1826.

Santuário Bom Jesus, em Congonhas, junto do qual o Padre Leandro fundou um colégio aos moldes do Colégio do Caraça

Sepultura do Padre Leandro nas catacumbas do Caraça

Colegio Pedro II, no Rio de Janeiro, do qual Padre Leandro foi vice-reitor