As mais tocantes: o pôr do sol. Sou muito solar. O cair da tarde, em minha remota infância, era muito triste, pelas horas sem luz, só as pobres velas ou lamparinas… Mas a manhã sempre foi festa: sinto que já dormi tudo. Vem daí a ambiguidade do horário de verão, que agrada e desagrada. Outras paisagens são a casa, vários ângulos, vistos por nós ou pela gota atenta da chuva.
As neblinas inventam novos mundos misteriosos, entrevistos, entressonhados, perdendo seus contornos, as lembranças esvaindo-se, ou o mundo fazendo-se e afirmando-se na luz e na gente. Uma vez, num poema, perguntei qual a função da neblina, quando as procissões vão desaparecendo no alto da colina, com seu Deus e com seus santos…
Saudade no coração da gente é neblina, faz perder os contornos e ao mesmo tempo vai revelando as coisas, o coração calmado das coisas, a realidade mais concreta das coisas, das pessoas, dos bichos, a verdadeira paisagem, que é mais construção nossa do que realidade objetiva e comprovável. Saudade temos é de nós mesmos, de quando estávamos ali, com aquelas pessoas, naquele momento feliz. O resto é lembrança, memória, história, fato. Saudade, não.
Padre Lauro Palú, C.M.