Há vários anos, nosso periódico publica artigos sobre a Semana Santa, de vários autores: Padre Célio Dell’Amore e nossa própria redação, Padre Evilásio do Amaral, Irmão Denílson Matias (hoje Sacerdote) e, neste último ano e meio, o atual diretor do Caraça, Padre Lauro Palú. Sempre foi abordada a celebração em si, mostrando seus aspectos tradicionais, instrumentais e litúrgicos.
Em nossa edição precedente, o Padre Lauro, além de explicar o significado de cada dia, a partir da Quinta-Feira, e de falar um pouco de como era em sua época de estudante, ainda fez questão de ilustrar o artigo com belas fotos, como a do candelabro que era usado no Ofício de Trevas, e o sugestivo Sacrário da igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens.
Pois bem, este ano vamos dar um foco diferente em nosso artigo: Quem vai ao Caraça na Semana Santa e está indo lá por quê? Quais são os motivos pessoais de cada um? Imaginamos de antemão quais seriam os intuitos da visita (passear, descansar, pesquisar, trabalhar, caminhar, contemplar, rezar, “será?”, etc.) e como seria nossa abordagem. Conversamos com dezenas de pessoas durante todo o tempo que passamos na Casa e, para nossa agradável surpresa, somente no último grupo de pessoas, já bem no finalzinho das abordagens, achamos uma resposta para o “será”, mas isto também vai ficar para o final deste artigo.
Descendo as escadarias da igreja, avistamos um grupo de motoqueiros, chegando naquele momento. Mas não eram simples motoqueiros, eram daqueles, com motos gigantes e muito bonitas, todos paramentados com suas jaquetas de couro, símbolos espalhados por todo lado e tudo mais. Não podíamos perder a oportunidade de conversar com eles e saber por que estavam chegando ali (imaginei o motivo, mas tive uma pequena surpresa). O grupo de motoqueiros era o “Harpias das Gerais”, da cidade de Contagem. Ao que parece, três casais (homem e mulher). O motivo do grupo, como sempre, foi sair pelas estradas da vida e conhecer novos locais, e o Caraça era realmente novo para cinco deles; somente uma já o conhecia, e, para nossa surpresa, era Ministra da Eucaristia (Ministra e motoqueira “Harpiana”, um caso raro) numa paróquia de sua cidade. Ela com certeza veio para passear, mas acreditamos que passou um pouco de tempo na igreja para rezar (quem sabe convidou alguém?).
Continuamos nossa caminhada pelos dependências do Caraça, vai aqui, vai ali, e de repente avistamos o pessoal do grupo Avistar Brasil (ficamos sabendo depois) com suas máquinas fotográficas e suas enormes lentes objetivas. Era fácil saber o motivo desse grupo, mas fomos lá conversar com eles. Para os integrantes da caravana, juntaram-se a conveniência da data (feriado prolongado) e o local de observação (espécies raras, tranquilidade, hospedagem e local para suas reuniões). O local, para eles, é um dos melhores do Brasil, quiçá do mundo. Para o coordenador do Grupo Avistar, Guto Carvalho, o Caraça é um local sui generis: “De modo geral sou observador de natureza, observo nuvens, estrelas, vento, rios e a passagem do tempo. As aves são belas e diversificadas, seu comportamento é sempre intrigante. Aqui no Caraça conseguimos aliar tudo isto de forma tranquila e confortável, com um vasto campo para todo tipo de observações, não só de pássaros”.
Já por volta das três ou quatro da tarde, voltamos pelo estacionamento em direção à igreja e vimos um grupo de pessoas sentadas nas escadarias. Pensamos: será que vamos achar um grupo ou pelo menos uma pessoa que veio aqui exclusivamente para rezar? (Excluímos a Ministra, cuja intenção apareceu depois). De fato, o Caraça foi, desde sua origem, uma Casa de oração e estudo, voltada quase “exclusivamente” para a formação de Padres e Irmãos da Congregação (mas, em todo caso, no mundo de hoje…). Chegamos perto do grupo, começamos a conversar e explicar a nossa reportagem. O pessoal era da excursão do colégio São Vicente, do Rio de Janeiro. Lá estava o casal Raul Bressau e sua esposa Marina Silva, com seus filhos e outras crianças, já meio que cansados, pois chegaram na quinta-feira e voltariam para o Rio naquele dia por volta da meia noite. Foi aí que o senhor Raul nos disse: “Não posso falar pelos outros, mas viemos também para rezar e alcançar paz espiritual, uma coisa que o Caraça sabe transmitir. Foi muito bom estar aqui novamente”.
A conclusão a que chegamos é que uma pessoa não precisa ir ao Caraça exclusivamente para rezar, mas se alguma coisa por lá a tocou para isto, melhor ainda…