A existência, imponente, da Serra do Caraça, com área de 31.521 hectares, situada entre os Municípios de Barão de Cocais, Santa Bárbara, Catas Altas, Mariana, Itabirito e Ouro Preto, é o fator determinante do clima da nossa região.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça (10.187,89 hectares) está inserida na Serra do Caraça e abrange 38% da sua área. Seu estado de conservação pode ser considerado fator fundamental para o clima da nossa região. Nos 62% de áreas restantes, existem 11% de áreas preservadas, como a Reserva do Caraça, integradas pelas RPPN’s Horto da Alegria e Capivari I, ambas da Vale S.A., e a Quebra Ossos, propriedade de Célio E. A. de Azevedo Júnior. Nas demais áreas, embora também estejam, em sua maioria, inseridas em unidade de conservação, na categoria Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte, são permitidas atividades com interferência humana, como por exemplo, área urbana com indústria e atividade de exploração mineral.
Nesse conjunto de áreas, a preservação da biodiversidade, sobretudo do relevo da Serra do Caraça, com as atividades humanas que ocorrem nos espaços urbanos dos municípios interessados, sem contar toda a interligação com as mudanças climáticas que ocorrem no mundo, definem o microclima da nossa região.
O relevo da Serra do Caraça pode ser descrita como sendo um vale, de fundo relativamente plano e pouco ondulado, com desníveis abruptos que separam o fundo do vale das cristas circundantes cuja altimetria atinge os 2.072m, no Pico do Sol, ponto mais elevado da Cadeia do Espinhaço.
A topografia da RPPN Santuário do Caraça atua como uma barreira natural e desempenha um papel decisivo na organização da circulação atmosférica local e na configuração de pequenos domínios climáticos, frutos da interação entre as condições naturais, que incluem a vegetação, as propriedades físicas do solo, etc., e das condições impostas pela intervenção humana.
Essa barreira natural na Serra do Caraça, que propicia a existência de vários microclimas distintos, faz com que fatores como a temperatura, a umidade relativa do ar e a precipitação de chuva, por exemplo, ocorram em locais diferentes, não tão distantes uns dos outros, numa mesma hora do dia. Por este motivo, é possível chover na Cascatinha, e ao mesmo tempo não cair uma gota d’água na sede do Santuário do Caraça. Outro fato curioso é que a chuva que vem de Mariana e Ouro Preto não chega ao Caraça pelo vale da Bocaina. Isso ocorre pelo sentido da corrente de vento, que contorna a barreira natural da Serra. Observamos que a chuva chega à sede do Caraça, normalmente, pela abertura do vale, na direção norte. Esta chuva chega tocando pelas paredes da Serra, também conhecidas como anfiteatro. Quanto à temperatura, é possível perceber a diferença na sensação de calor, quando se está na portaria de acesso ao Caraça e quando se chega à sede do Santuário. Nesses dois pontos, a diferença vai de 5 a 10 graus, conforme a época do ano. No período do inverno, nas primeiras horas do amanhecer, é possível ver o termômetro registrar 0º grau Celsius, e ver também a geada sobre a grama e na lataria dos carros dos hóspedes. Por isso, traga consigo, de antemão, agasalho para o frio.
Outro fator de grande relevância para nós, é que o clima, que está relacionado com as condições geológicas e geomorfológicas da Serra do Caraça, torna abundantes os recursos hídricos superficiais e subterrâneos da região.
Esses fatores também são responsáveis pela existência de espécies endêmicas da flora e fauna, ou seja, adaptadas a viver somente em nossa região.
Veja os seis últimos anos de observações pluviométricas (medição do índice de chuva) da RPPN Santuário do Caraça, monitorado pelo Serviço Geológico do Brasil, ou simplesmente CPRM. A CPRM opera a Rede Hidrometeorológica Nacional, da Agência Nacional de Águas – ANA.
Matéria: Aline Abreu, bióloga e Coordenadora Ambiental da RPPN Santuário do Caraça
Jornal Voz do Caraça – Ed. 104 – Janeiro 2015