Quando foi demolida a antiga capela do Caraça, feita pelo Irmão Lourenço de Nossa Senhora, em 1876, pensou-se em uma nova construção, que comportasse o número crescente de alunos do célebre Colégio. Enquanto o Padre Julio Clavelin edificava o templo neogótico, o Padre Luiz Gonzaga Boavida passou a trabalhar na feitura de um órgão à altura do novo templo.
O Padre Boavida tinha muitas outras atribuições: era Missionário, ecônomo da Casa, professor de música. Não se conhece a fonte dos seus conhecimentos de organaria e é certo que ele fez somente este instrumento, para uso do Caraça. Utilizou antigos tubos, de algum órgão que já havia na Casa; acrescentou outros, cuja procedência não está documentada, mas com características da fatura francesa do século XIX; e somou a esses os tubos de madeira que ele mesmo produziu. O total chega a 628 tubos, e o resultado sonoro é admirável, dada a diversidade do material.
O órgão acompanhou toda a vida do Colégio do Caraça, sendo tocado por diversos Padres músicos, nos acontecimentos mais solenes da comunidade. Após o incêndio que encerrou as atividades do Colégio, em 1968, o instrumento, sem uso, acumulou defeitos, até ficar totalmente mudo e impossível de ser usado. Sua restauração foi empreendida em 1985, com a atuação do organeiro Ricardo Clerice, de São Paulo-SP. Desde então, com a periódica manutenção realizada pelo mesmo técnico, o instrumento ganhou novo alento e é tocado regularmente em apresentações para os visitantes e em outras ocasiões especiais.
Algumas de suas características: um teclado de 61 notas (Dó – dó5); uma pedaleira de botões “champignons”, de 24 notas (Dó – si); não há acoplamento. O teclado tem transpositor a modo de harmônio, deslocando-o acima e abaixo; a pedaleira não tem transpositor. Ação mecânica muito dura. Resposta instantânea. Foles manuais originais desaparecidos. Alimentação atual por ventoinha importada em 1999 da Itália.
Registros
Tubos antigos: Mixtura de duas fileiras; “Voz Celeste”, registro oscilante de meia fileira a partir do fa# médio para o agudo (31 tubos).
Tubos “franceses”: Bordão 8’ – Prestant 4’ – Quinta 2 2/3 – Principalino 2’ – Salicional 4’.
Tubos de madeira feitos pelo Padre Boavida: Flauta 8’ – Tapado 16’ – Pedal I 8’ – Pedal II 16’.