Tião Crispim – Santa Bárbara – MG tiaocrispim@yahoo.com.br
1. Um santo envolto em muitos mistérios A relíquia de São Pio compreende todo o corpo do santo revestido de cera, um cálice com sangue misturado a areia, unhas e dentes. As relíquias foram trazidas de Roma em 1792 para reforçar a religiosidade popular, além de confirmar os favores pontifícios concedidos ao Santuário do Caraça, nesta época merecedor das benesses do Papa Pio VI.
A doação da relíquia teve como escopo papal a consolidação do Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens como um aprisco de Cristo, longe daqueles que se achavam governados pelos interesses mundanos. Por essa época, estes rincões das Minas Gerais eram mananciais de vícios, superstições e beatices, onde havia potentados, sanguinários e devassos, que, contudo, não se descuidavam de que tinham alma, e, portanto, pensavam em sua salvação.
O estudioso Romain Roussel conta que, desde os tempos mais recuados da Idade Média, certos fiéis peregrinos se deixaram seduzir pelas indulgências. “Aqueles que viam a Vernicle (a imagem do Salvador gravada na toalha da Verônica, que se conserva em Roma) – escreve o autor francês – conseguiam beneficiar-se de uma redução de 9000 anos de purgatório, se vinham de um país vizinho, e de 12000 anos se atravessassem o mar (os moradores de Roma, em igual caso, não lucravam senão 3000 anos)”. No Caraça, os que vinham venerar as relíquias de São Pio Mártir tinham uma remissão de um terço de seus pecados
2. Relíquia reconhecida pela Sagrada Congregação das Indulgências
São Pio Mártir é o primeiro corpo de santo vindo para o Brasil e o Irmão Lourenço o recebeu como oferta da Santa Sé para a glória do seu Santuário. Foi um favor extraordinário a doação desta insigne relíquia. A Autêntica dessa relíquia consta de documento, datado e assinado em Roma, aos 9 de julho de 1792.
Era um soldado romano morto por professar a fé cristã, cujo corpo foi encontrado na Catacumba de Santa Ciríaca. Recebeu, na doação ao Caraça, o nome de Pio em homenagem ao Papa Pio VI que governava a Igreja na época.
As relíquias de São Pio chegaram ao Caraça em 16 de maio de 1797, vindas da arquidiocese de Mariana, para onde foi enviada pelo Vaticano, para posteriormente serem entregues ao Irmão Lourenço, o eremita do Santuário do Caraça.
As relíquias, tão logo chegaram ao Santuário, no alto da Serra, foram colocadas num altar barroco, do lado esquerdo da igreja, especialmente construído para servir de morada última àquele soldado romano que sucumbiu ao terror de Roma em nome da fé cristã. Dois séculos depois, em 16 de maio de 1992, nas comemorações do bi-centenário da entronização da relíquia no Santuário, a preciosidade foi transferida, após ter ficado nas tribunas da igreja neogótica, para o altar das celebrações, com o objetivo de facilitar a visitação e instrução dos fiéis e para que assim se cumprisse o desejo do Irmão Lourenço e do Vaticano.
Os restos mortais de São Pio emprestam ao Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens ares de religiosidade plena, até então só testemunhada nas sombrias catacumbas romanas. Reedita-se assim, no Caraça, uma prática comum nos primeiros séculos da Igreja, quando nas catacumbas se celebrava a Santa Missa sobre o túmulo dos Mártires. Hoje, no Caraça, sobre o corpo de São Pio Mártir, faz-se o mesmo, pedindo a Deus fidelidade à graça do batismo e heroísmo até a morte, se necessário for.