A imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens
A bela imagem barroca de Nossa Senhora Mãe dos Homens, vinda de Portugal, chegou ao Caraça em 1784, sendo abençoada no dia 17 de maio. A imagem é peça única, talhada na madeira, tendo suas roupas ricamente pintadas de ouro e a nuvem de sustentação pintada de prata. A imagem traz uma coroa na cabeça e brincos em suas orelhas. Seus membros são grossos, como os das mulheres trabalhadoras, e seu braço direito aparece erguido dando a bênção. Da mesma forma, o menino Jesus, todo nu, no braço esquerdo de Nossa Senhora, ergue também o braço direito para dar sua bênção, enquanto segura na mão esquerda o globo terrestre.
Quando de sua restauração, em 1998, o restaurador descobriu numa fenda que havia no dorso da imagem uma relíquia do final do século XVIII ou início do século XIX – uma oração assinada por Alexandre: “Ó Maria Santíssima, Mãe de Misericórdia e dos pecadores, aqui está a vossos pés o menor de todos eles e o mais indigno filho – Alexandre – escravo vosso. Lançai, minha Mãe e Senhora, sobre a alma deste enorme pecador, a vossa Santíssima bênção e ponde-me os vossos piíssimos olhos e intercedei por nós a vosso Santíssimo Filho, meu Deus de Amor e Misericórdia”
O corpo de São Pio Mártir
O corpo de São Pio Mártir, o primeiro corpo de santo que veio para o Brasil e por muito tempo a maior relíquia em terras brasileiras, chegou ao Caraça em 1797, como oferta do Papa Pio VI, que muito agraciou o Santuário do Irmão Lourenço com indulgências, graças e favores espirituais. Tal relíquia compreende o corpo todo do Santo, revestido de cera. Num cálice, há areia de seu túmulo e um pouco de sangue. Aproximando-se do relicário, podem-se perceber claramente as unhas e os dentes superiores do Mártir. Esteve por muito tempo no altar barroco do lado esquerdo da Igreja, como o deixou o Irmão Lourenço. Quando da construção da atual Igreja e nos tempos da Escola Apostólica do final do século XIX, esteve na Sala de Oração dos Padres. Depois foi levado para a tribuna da esquerda, para onde se ia através de uma escada externa, localizada num dos corredores do Claustro. Finalmente, a partir de 1992, foi colocado sob o altar das Celebrações. Depositado sob o altar principal do Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens, o corpo de São Pio Mártir faz os fiéis lançarem os olhos para a espiritualidade martirial, cultivada e incentivada na Igreja desde os seus primórdios. O mártir é aquela testemunha fiel do Senhor, que, em meio às perseguições, não titubeia em sua fé nem se deixa esmorecer no caminho do seguimento de Jesus. Morrendo por Deus e pelo Reino de Deus, o mártir associa de maneira toda especial sua vida à vida de Jesus, assim como sua morte, momento derradeiro da opção evangélica e da verificação de sua fidelidade. Celebrar a Missa sobre relíquias une liturgicamente a memória (vida e sangue doados) de Jesus à memória (vida e sangue doados) de seus seguidores, os Mártires.
A Ceia de Ataíde
Pintada em 1828, pelo Tenente Manuel da Costa Ataíde (1762-1830), é das mais belas e importantes obras artísticas do Caraça. No centro, o Cristo está aureolado de luz, rodeado pelos doze apóstolos, divididos em grupos de três. Sobre a mesa, revestida com uma toalha rendada, que ainda conserva as dobraduras de quando estava guardada, além do pão e do vinho, servido num cálice de vidro, há um prato com carne de carneiro, o cordeiro pascal. No chão, a bacia e a toalha usadas no Lava-Pés apontam para a excelência do amor e do serviço.
Judas, o traidor, sentado bem à frente, como que pronto para sair da reunião, segura a sacola de dinheiro e ainda contempla todos os visitantes, independente do lugar em que se encontram na Igreja.
Nos cantos do quadro, à esquerda, três personagens: uma jovem servente, carregando pães e sendo acariciada por um homem que vem logo atrás de si, e uma outra mulher, mulata, como sempre Mestre Ataíde faz questão de retratar. Do outro lado, mais duas personagens completam a cena, entrando no recinto festiva e alegremente.
O quadro custou 350$000, segundo os livros contábeis da Casa, e foi pintada a pedido do superior Padre Jerônimo de Macedo.
A identificação de autoria que se pode ver na tela foi feita pelo pintor alemão George Grimm, quando esteve no Caraça; imprimiu na tela a assinatura que o próprio autor não tinha costume de colocar em suas obras.
Os Vitrais Franceses
Merecem destaque, no interior da Igreja, os vitrais franceses do presbitério, sendo que o central foi doado por Dom Pedro II, quando de sua visita ao Caraça nos dias 11, 12 e 13 de abril de 1881. Nele se percebe, abaixo do Menino Jesus, o brasão do Império, como assinatura de seu ilustre doador.
Da esquerda para a direita, os vitrais retratam o nascimento de Jesus, a apresentação do Menino Jesus no Templo por seus pais, o Menino Jesus com 12 anos no Templo discutindo com os doutores da Lei, o Menino Jesus e seus pais trabalhando em Nazaré e as Bodas de Caná.
Órgão do Padre Boavida
O órgão do Santuário do Caraça, feito para a atual Igreja e inaugurado junto com ela, em 1883, é obra-prima do Padre Luis Gonzaga Boavida. Com 628 tubos, o órgão reúne tubos portugueses (possivelmente do órgão da antiga Ermida), tubos franceses e tubos de madeira caracense. Até 1974, quando foi colocado um motor para encher os foles de ar, o órgão funcionava movido a força braçal. Alunos do Colégio ficavam atentos ao sinal dado pelo Padre organista para encherem de ar o grande fole.
O órgão foi feito de pinheiro, jacarandá e outras madeiras próprias do Caraça. O órgão tem o mesmo estilo da Igreja: arcos ogivais adornam sua frente e se erguem até a altura da rosácea frontal, sendo, por isso, não mais alta que as laterais, como exigem as regras da arte. É admirável também o complicado mecanismo usado para que o organista fique de frente para o povo. É tocado todo segundo final de semana do mês pelo organista Lucas Raposo, de Belo Horizonte-MG.
Altares Laterais
O Santuário do Caraça tem vários altares, além do altar principal dedicado a Nossa Senhora Mãe dos Homens e do altar da Celebração Eucarística, onde está depositada a relíquia do corpo de São Pio Mártir.
Ainda da antiga Ermida do Irmão Lourenço mantêm-se dois altares barrocos, ricamente pintados, entre 1806 e 1807, pelo Mestre Ataíde, o célebre pintor marianense. Esses altares estão logo na entrada da atual Igreja. Em um deles, à direita, encontra-se a imagem de Nossa Senhora da Piedade. No outro, à esquerda, está a imagem do Sagrado Coração de Jesus.
Ao longo da Igreja, encontram-se outros 10 altares, 5 de cada lado. Do lado direito, estão os altares de São Francisco de Sales, de Santo Antônio, de São Paulo, de São Francisco de Assis e de São José.
Do lado esquerdo, estão os altares de São João Batista, de São Luís Gonzaga, de São Pedro, de São Vicente de Paulo e do Sagrado Coração de Jesus.