Não é todo ano, mas em janeiro ocorreu. O ribeirão Caraça cresce bastante, com as chuvas. Todas as águas da bacia formada pelas montanhas do Caraça descem pelo mesmo local, engrossando-se à medida que passam em novos vales e recebem novas quedas de água das pedreiras. Mas esse rio, que mostra na Cascatona a sua pujança, antes de despenhar-se passa por três funis, isto é, corre escondido debaixo da montanha ou das pedreiras correspondentes aos seus sumidouros.
E aí acontece o de janeiro. Como é um rio criptorreico, sucede que o volume das águas da chuvarada excede o “calibre” da galeria onde se metem e as águas começam a represar-se, pouco a pouco, mas absolutamente excessivas.
Da frente da igreja do Caraça se pode ver, lá em baixo, na direção do caminho da Cascatona, o volume crescido do rio. Na ponte Lara Resende, na chegada ao Caraça, vê-se que as águas correm e sobem constantemente. Chegam a tocar a ponte, chegaram a superar o piso da ponte. E aí todos já sabem: a estrada vai ficar cortada pelas águas lá nos Tabuões.
Naquela baixada, antigamente havia uma ponte, feita de largas tábuas grossas resistentes, os tabuões. Várias vezes o Caraça ficava isolado. Uma vez, tiveram que fazer chegar o arroz em pequenos sacos de um ou dois quilos, que jogavam para o lado de cá, perto de um dos funis, porque, pela estrada, era impossível chegar qualquer mantimento…
Quando a estrada foi asfaltada, no governo de Aureliano Chaves, em 1976, o local da ponte foi aterrado, construiu-se uma galeria para as águas que descem do lado do pico da Conceição, e não deveria haver mais problemas, porque o asfalto ficou um metro mais alto do que era a ponte de madeira.
Pode ter sido por causa dos entulhos que a movimentação de terra provocou, na construção da nova estrada, com galhos e gravetos sendo carregados pelas chuvas, mas continuou a haver o problema, porque foi necessário esvaziar as entradas dos funis de tanto tronco, tanta galharia (falaram em três caminhões de lenha, uma vez…). O certo é que uma ocasião, a água subiu dois metros e setenta sobre o asfalto. Aí, só mesmo de barco, e olhe lá. Quando as águas não exageram, o barco leva as pessoas e um dos monitores o vai puxando a pé, andando no asfalto, para o hóspede tomar o táxi que chamou e o espera do lado de lá. Assim chegou o nosso pão naquele dia…
Neste último janeiro, foram apenas algumas horas de atrapalhação, o barco fez sua parte, os monitores para lá e para cá, não houve maior atropelo.
O que pensamos fazer? Dizem que o DER projeta fazer um grande elevado, para nem os dois metros e tanto cortarem a circulação… Há quem ache as cheias até exóticas, uma atração, uma loteria na vida da gente. E o barco está ali para isso, se preciso… Outros acham que a ideia do elevado é boa. Mas vai ser mais terra carreada de um lado para o outro, mais galharia sendo arrastada, daqui a pouco estaremos na altura dos picos e a água continuará tentando passar por onde puder… Há quem goste de não poder sair do Caraça, de ter que ficar ali mais um tempinho… Em anos de poucas chuvas, como 2013, 14 e 15 (até dezembro), não costuma haver problemas.
Pe. Lauro Palú, C.M.