No dia 13 de maio de 2010, às 13h, no Santuário do Caraça, aconteceu a reentronização da imagem de Nossa Senhora das Vitórias, uma bela imagem européia, toda de madeira, da segunda metade do século XIX. Este dia, além de ser a memória litúrgica de Nossa Senhora de Fátima, é também dia do aniversário natalício de Dom Antônio Ferreira Viçoso (13/05/1787 – 07/07/1875), o santo Bispo de Mariana, fundador do Colégio do Caraça e grande missionário em Minas Gerais e em outras regiões do Brasil.
A reentronização da imagem foi acompanhada por muitas pessoas, tanto Padres e funcionários da Casa como também hóspedes e visitantes de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Numa cerimônia simples e familiar, procedeu-se a bênção da imagem, presidida pelo Padre Agnaldo Aparecido de Paula, Visitador da Província Brasileira da Congregação da Missão, proprietária e mantenedora do Caraça. Antes, porém, a imagem foi colocada no nicho central do altar da Capela Irmão Lourenço, o que precisou de muita força e habilidade, devido ao tamanho e ao peso da imagem.
A restauração foi feita por Elayne Granada Lara, do CEIB (Centro de Estudo da Imaginária Brasileira), de Belo Horizonte-MG, responsável pela restauração, em andamento, das outras duas imagens da Capela (São José e São Vicente de Paulo).
Esta Capela, onde está a imagem restaurada, é o antigo quarto do Irmão Lourenço de Nossa Senhora, fundador do Santuário do Caraça, que aqui viveu de 1770 até 27 de outubro de 1819, data de sua morte. Atualmente, é a capela de oração da comunidade dos Padres.
A seguir, segue-se um relatório sobre a imagem, feito pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC), em 1992, quando foi realizado o inventário histórico do Caraça.
Nossa Senhora das Vitórias
Descrição
Figura feminina, meia-idade, de pé, posição frontal, cabeça levemente inclinada para a esquerda, olhar direcionado para frente. Olhos azuis, nariz aquilino, lábios fechados. Braços flexionados, o esquerdo sobre o ventre do menino que está de pé ao seu lado. Perna esquerda reta; perna direita flexionada e recuada. Veste túnica rosa com detalhes em curvas douradas e pretas, manto azul com estamparia dourada em folhas de parreira e uvas, sob fundo verde. Na cabeça, véu branco de borda dourada. Traz os pés descalços sobre nuvens brancas.
Menino de pé, ao lado da Virgem, à direita. Posição frontal, cabeça ereta, olhar direcionado para frente. Olhos azuis, lábios fechados, cabelos curtos, ondulados e claros. Braços flexionados à frente, mãos espalmadas, perna esquerda reta e direita flexionada. Seminu, envolvido por manto branco com estrelas e barrado dourados. Pés descalços sobre globo azul com estrelas, apoiado sobre nuvens brancas. Base de forma quadrangular, na cor marrom.
Dimensões
Altura: 165 cm
Largura: 67 cm
Profundidade: 58 cm
Características Técnicas
Peça esculpida em várias partes de madeira clara, encaixadas, pregadas e coladas. Policromia a óleo: rosa-escuro, azul-anil, azul-escuro, vermelha, marrom, branca, preta e dourada (purpurina). Base de preparação branca e espessa (provavelmente gesso e cola).
Características Estilísticas
Imagem de possível origem européia, datável do século XIX. Apresenta características formais do estilo neoclássico, com proporções anatômicas alongadas e expressão idealizada, desprovida de realismo. Trata-se de peça mal proporcionada e de pouca elaboração, identificando-se rigidez de postura, falta de detalhamento dos pés e mãos e panejamento sem movimentação.
Características Iconográficas
A invocação de Nossa Senhora da Vitória já existia em Portugal desde o tempo de D. João I (1358-1433), quando este rei, grato à Virgem Maria pela vitória alcançada em Aljubarrota contra os castelhanos, mandara construir um mosteiro e um templo real no próprio local onde se dera o combate. A devoção foi transplantada para o Brasil no início da colonização portuguesa, disseminando-se rapidamente pelo litoral brasileiro. Senhora da Vitória é até hoje muito venerada no nordeste brasileiro, geralmente em antigas vilas. Pode ser representada de pé, com o Menino Jesus no braço esquerdo e com a mão direita segurando a palma, símbolo da vitória. A devoção a Nossa Senhora das Vitórias, de origem francesa, é variante da devoção a Nossa Senhora da Vitória, também de origem européia.