História Santuário do Caraça

Complexo Santuário do Caraça – O que é?

Situada nos municípios de Catas Altas e Santa Bárbara, com 11.233 hectares, é uma propriedade da Província Brasileira da Congregação da Missão. O Caraça – como comumente é chamado – é um “centro de espiritualidade e missão, de cultura e educação, de conservação ambiental, lazer e turismo” (Plano de Ação para o Caraça 2007 – 2012, p. 1). É ainda:

  • Instituição católica, da família Vicentina, com várias finalidades sociais, dentre elas a missionária e a atenção aos pobres;
  • Família de educadores – colégio / seminário – formada pelos Padres, Coirmãos, ex-alunos, pesquisadores e colaboradores;
  • Centro de peregrinação, cultura, educação, turismo e ecologia;
  • Reserva Particular do Patrimônio Natural, componente da APA Sul da RMBH e da Reserva da Biosfera;
  • Centro de educação ambiental e de produção do conhecimento científico, como produtivo campo de pesquisas acadêmicas;
  • Patrimônio Cultural do Brasil, com tombamentos em nível federal, estadual e municipal;
  • Uma das 7 Maravilhas da Estrada Real;
  • Um empreendimento turístico múltiplo (pousada, restaurante, lanchonete, loja e atrativos naturais e culturais) que gera emprego direto para cerca de 70 moradores da região na qual se insere e que fomenta um fluxo turístico anual maior do que a soma das populações das duas cidades onde se localiza, dessa forma, marcando a identidade turística da região e condicionando ambiente favorável ao surgimento de outros negócios e empreendimentos na cadeia do turismo microrregional.

Trata-se, portanto, de uma estrutura complexa, com múltiplas funções, papéis e personalidades que deve harmoniosamente se integrar para compor uma unidade eficiente e qualificada. Nesse contexto, destacam-se 4 eixos básicos que constituem a integralidade do Caraça:

  1. Preservação, conservação e educação ambiental (RPPN, centro de visitantes e trilhas)
  2. Educação, cultura, ciência (Conjunto arquitetônico, museu e biblioteca).
  3. Centro Vicentino Missionário de espiritualidade, religião e peregrinação (Santuário e Curato)
  4. Complexo Turístico (pousada, restaurante, loja, lanchonete, bar roteiros e atrativos);

O Complexo Santuário do Caraça é o conjunto de toda a propriedade de 11.233 hectares, onde estão localizados o Conjunto Arquitetônico do Santuário, a área da RPPN (área de 10.187 ha), e partes identificadas pela proprietária como áreas de manejo. No Conjunto Arquitetônico estão a igreja neogótica, o prédio do antigo colégio (hoje museu e biblioteca) e a pousada. Na área de manejo estão localizadas a Fazenda do Engenho, o Buraco da Boiada, a Fazenda do Capivari.

O nome Caraça

Nome dado pelos Bandeirantes no século XVIII, após avistarem na serra, uma conformação rochosa, semelhante ao perfil de um rosto de uma pessoa, do latim “cara grande”. Caraça, em tupi-guarani, significa desfiladeiro ou bocaina, como hoje é chamado o portentoso vale entre os Picos do Sol e do Inficionado. Diante do Santuário, não é possível ver a “Caraça”, é preciso caminhar em direção ao Banho do Belchior, até o local chamado de Pinheiros, a outra opção é na trilha para a Bocaina, na Pedra da Paciência, e por fim, a opção mais próxima é o mirante da piscina.

Irmão Lourenço de Nossa Senhora

Por volta de 1770, a sesmaria do Caraça foi comprada pelo Irmão Lourenço de Nossa Senhora, que logo começou a construir um hospício (casa de hospedagem) para romeiros e uma capela barroca, dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens, devoção mariana tipicamente portuguesa.

Muitas dúvidas e lendas giram em torno da histórica, mas enigmática figura do Irmão Lourenço. No entanto, sua vida no Santuário do Caraça é bem documentada e conhecida. As dúvidas pairam sobre seu passado, antes de chegar à Serra do Caraça.
Estudos e hipóteses apontam para Carlos Mendonça Távora, um nobre português que, depois de um atentado contra Dom José I, rei de Portugal, foi perseguido pelo Marquês de Pombal. Os Távoras, longe de serem criminosos, cometeram esse atentado por não aceitarem as atitudes do rei contra uma mulher da família. Onze nobres da família foram queimados em praça pública, em Portugal, outro apenas em efígie, por ter fugido.
Este fugitivo seria Carlos Mendonça Távora, que, por volta de 1760, está no Arraial do Tejuco (hoje Diamantina-MG) trabalhando na mineração. Chegando pobre ao Tejuco, faz-se membro da Ordem Terceira de São Francisco e, assim, consegue status social e proximidade com os principais homens do lugar, especialmente com o Contratador João Fernandes de Oliveira, marido de Xica da Silva, cuja fortuna talvez fosse maior do que a de Dom José I, em Portugal.

Sob novas acusações contra a política tributária do Arraial do Tejuco e o desejo da Corte de assumir por própria conta a mineração, o que se deu com a criação da Real Extração do Diamante, o Irmão Lourenço novamente precisa se retirar.

Independente da exatidão de tais informações e das vertentes que essa história pode ter, o fato é que em 1768-1770 o Irmão Lourenço de Nossa Senhora compra a sesmaria do Caraça e aqui se instala, no mais vivo desejo de se converter e devotar sua vida à obra de Deus e à divulgação do Santuário do Caraça como lugar de retomada da vida à luz do projeto de Deus, sob a proteção de Nossa Senhora Mãe dos Homens.

Dedicando-se à vida penitente e ao atendimento dos peregrinos, mais tarde acompanhado de outros ermitães penitentes, o Irmão Lourenço cria, em Minas Gerais, um foco de atração para Deus, em meio ao tumulto minerador, e um centro de conversão, oferecendo ao povo uma alternativa à loucura do século. Com o desenvolvimento de seu Santuário, funda a Irmandade de Nossa Senhora Mãe dos Homens (1791-1885) e, com a ajuda de seus membros, que chegaram ao longo do século ao número de 23.226, e às esmolas conseguidas em peregrinações por toda a Província, vai melhorando as instalações do Caraça e enriquecendo sua igreja e sua hospedaria.

Com a idade avançando e as dificuldades enfrentadas para a continuidade de sua obra, o Irmão Lourenço resolve fazer a doação das terras e do Santuário à Fazenda Real, a fim de que a Coroa Portuguesa conseguisse Padres que dessem continuidade ao centro de romaria e missão e, sendo possível, fundassem uma casa para educação de meninos. Foram feitos três requerimentos: o primeiro em 1806 e os dois últimos em 1810, todos sem resposta positiva.

No dia 27 de outubro de 1819, com cerca de 96 anos, o Irmão Lourenço faleceu, sem ver os Padres tomando posse de sua Ermida. No entanto, o velho penitente morreu consolado, pois, segundo os relatos do vigário de Catas Altas, que atendeu nos últimos momentos de vida o santo fundador do Caraça, Nossa Senhora teria se manifestado a ele dizendo que podia morrer em paz, pois Deus não abandonaria a obra do Caraça. Isso, de fato, se provaria com o envio de Missionários para dar continuidade à obra do Santuário.

A Educação Caracense

Pelo Colégio do Caraça passaram quase 11000 alunos, dos quais muitos tiveram seus nomes reconhecidos no cenário nacional, político, civil e religioso: em média 500 padres, 21 bispos, 120 políticos, dos quais dois Presidentes da República: Afonso Pena (1906-1909) e Artur Bernardes (1922-1926), magistrados, médicos, engenheiros, cientistas, professores universitários, etc.

Segundo Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), o sistema de ensino do Caraça era “admirável código de educação, um modelo de verdadeiro humanismo pedagógico, em que a autoridade harmoniosamente se combina com a personalidade e a suavidade”. De fato, como lugar de ensino humanístico, o Colégio sempre se esmerou pela excelência acadêmica (o que contrastava radicalmente com a decadência da educação primária no país, o que forçava os abastados a estudarem na Europa), coerência e seriedade pedagógica dos professores, séria disciplina (muitas vezes, por demais rígida), absoluta pontualidade e cadência ritualística dos dias e das atividades.

No período áureo francês (fim do século XIX), no Caraça, unido ao curso de Teologia e Filosofia do Seminário Maior de Mariana, estudavam-se 25 matérias. Um ritmo verdadeiramente universitário, visto que os meninos, neste período, ficavam internos em média sete anos!

No século XX, os meninos continuavam chegando ao Caraça por volta dos 10-11 anos, mas ficavam menos tempo que no período francês. O curso de humanidades do Colégio, agora equiparado ao Ginásio Nacional, pelo Decreto 3701, era de apenas cinco anos. E nele se estudavam, com algumas variações: Religião, Português, Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa e Universal, Latim, Grego, Francês, Inglês, Matemática, Aritmética, Geografia, Cosmografia, História Natural, Ciências (Física e Química), História do Brasil e Universal, Desenho e Caligrafia.

O objetivo dos estudos era o conhecimento detalhado, quanto possível aprofundado, do tema versado. O método era a explicação antecipada pelo professor da matéria da aula seguinte, que era revista antes da respectiva aula pelo próprio aluno, na hora do estudo pessoal. Eram duas aulas pela manhã e duas pela tarde, todas precedidas por seus estudos, além do estudo noturno, para as tarefas e exercícios passados pelos professores. Exames orais e questionamentos sobre as matérias eram feitos periodicamente, além do exercício de leitura, para o qual se aproveitavam os momentos de refeição. Ademais, eram freqüentes os campeonatos de literatura e os torneios temáticos. Tudo isso, aliado a grande disciplina, possibilitava aos alunos um sério estudo e uma excelente aquisição de conhecimentos. Indisciplina, “colas”, maus hábitos escolares, brigas e preguiça não eram bem vistos pelos professores e eram inaceitáveis no esquema educacional caracense.

A leitura de notas mensal ou semestral era também um grande fator de incentivo ao estudo. Tal acontecimento se dava no salão de estudos, na presença de todos os alunos e de todos os professores. E com júbilo eram saudados aqueles que tiravam 9 e 10!

De modo especial, cabe ressaltar o aproveitamento do tempo como um dos pontos mais marcantes e fundamentais do Colégio do Caraça. O tempo empregado no estudo pessoal, na leitura e nas aulas completava quase toda a jornada diária. Acolhendo o estudo como sagrado e único motivo pelo qual subiram a Serra, os alunos aplicavam-se, guiados pelo exemplo e pela direção dos Padres professores, com assiduidade à aquisição do conhecimento e com rígida e fecunda disciplina à organização de suas vidas.

Estilo Neogótico do Santuário Neogótico de Nossa Senhora Mãe dos Homens

A Igreja Neogótica possui torres pontiagudas e esguias, grandes vitrais e rosáceas. No Frontispício, aparece o símbolo de São Francisco de Assis, cuja a Ordem Terceira pertencia o Irmão Lourenço, além de duas datas, 1775 que marcou a sagração da Ermida do Irmão Lourenço e, 1880, marcando a colocação da imagem de Nossa Senhora das Graças no Frontispício.

A pedra-sabão usada na construção da igreja foi retirada próximo da Cascatona, já o mármore próximo da cidade de Mariana e o quartzo da região do Caraça e da vizinhança. No interior da igreja, encontramos vitrais franceses, sendo que o central foi doação de Dom Pedro II. A imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens veio de Portugal em 1784, o Corpo de São Pio Mártir, que foi o primeiro corpo de santo vindo para o Brasil, chegando por volta de 1797 (corpo revestido de cera, unhas no pé e mão, dente e um cálice contendo areia e sangue).

Conservaram-se um rico acervo de arte barroca composta por dois altares – Nossa Senhora da Piedade e Sagrado Coração – Obra de Mestre Athayde, dois púlpitos e a tela da “Santa Ceia”, do mestre Athayde (1828). O estilo gótico, fugindo dos padrões da região, foi uma influência do estilo francês na época. Também foi inaugurado junto à igreja, o órgão, que foi construído pelo padre Luis Gonzaga Boavida.