Muitos admiram, no museu do Caraça, a foto dos pequenos Alunos, no refeitório antigo. Havia colunas no grande salão, hoje todo aberto, coberto por sábio sistema de travamento de vigas que desobstruiu a vista e ampliou o belo espaço. Os Seminaristas, então chamados Apostólicos, comiam calados, ouvindo leituras, interessantes, instrutivas, biografia, romance, estudos de temas, episódios históricos, ficção ou reportagem. Atentos, acompanhavam o leitor. Quando havia erro na pronúncia, nas pausas, na ligação dos termos da frase, o Padre batia um sinal na campainha e todos se ligavam imediatamente no que ainda soava nos ouvidos e pensavam: “O que foi que errou?” A glória, mesmo, era quando alguém notava que o leitor dissera algo errado e “pulava”, isto é, dava um sinal de vivacidade, ainda antes que o Padre notasse ou reagisse. O processo era extremamente eficaz, porque aprendíamos a notar quando algo fora mal pronunciado ou mal apresentado, dividindo o que devia ser ligado ou juntando o que deveria vir em dois momentos de frase.
Hoje, há locutores competentes, infalíveis, muitíssimo bem preparados, selecionados entre mil para cada noticiário, cada programa de entrevistas ou comentários políticos, culturais, de entretenimento ou de reflexão em grupos. Bons oradores, entre os Padres formados no Caraça e em Petrópolis, ou Mariana e Diamantina, começaram sua trajetória ao preparar a leitura no refeitório, marca registrada da disciplina dos seminários .
Às vezes me perguntam se o Seminário era rigoroso como tinha sido o Colégio, até 1912. Não. Era disciplinado, mas não rigoroso. O silêncio, a pontualidade, o pedir licenças, o desculpar-se ou o agradecimento eram prática normal da convivência de pessoas educadas. E para isso serviam as “aulas de civilidade” ou de boas maneiras, que marcaram a fineza, a fidalguia do comportamento dos professores, dos pregadores, dos missionários, dos confessores.
Como os serventes, marcados entre os Alunos maiores, iriam comer do que viera nas travessas da mesa dos Padres e Irmãos, todos se alimentavam, durante a refeição, com dados culturais muito sólidos, que completavam os conteúdos das aulas. Nossa comida era realmente pobre, mas o que se lia e escutava, se aproveitava e discutia, era de fato de primeira, abundante, temperado, cozido com gosto e muito “nutritivo”.
Padre Lauro Palú, C.M.