No Sábado, dia 2 de Julho, pela manhã, ocorreu uma “procissão” até o alto da Capela do Sagrado Coração de Jesus. Mesmo com a “dificuldade” da subida, num percurso de 30 minutos de caminhada, não faltou fé e alegria dos fiéis.
A Missa foi celebrada às 10:00h, pelo Padre Sebastião de Carvalho Chaves, C.M., que todo ano, faz questão de manter está tradição, que geralmente acontece uma vez no ano.
Em clima de irmandade e alegria, todos puderam fazer desta experiência uma riquíssima experiência de fé e de amor ao Caraça, especialmente deixando ecoar nos corações a mais importante mensagem da devoção ao Sagrado Coração: a urgência do amor mútuo e do compromisso de todos com os pequenos e Pobres.
Que do alto da Capelinha, o Sagrado Coração de Jesus continue abençoando a todos nós, especialmente aos seus devotos, em vista da abertura de nossos corações ao amor e ao compromisso de solidariedade!
A Capelinha na voz e no coração do Padre Sarneel
“Na chamada serra do Felizardo e a uma altura de duzentos metros do Colégio, uma simples e modesta capelinha, sem torres e sem ornatos, atrai a curiosidade dos turistas. A sua história é triste, mas edificante.
Em 1863, funcionava no Caraça o seminário maior de Mariana. Os seus mestres e alunos tinham particular devoção a Nossa Senhora de todas as graças que aparecera, em 1830, a uma jovem noviça da Companhia das Filhas da Caridade, fundada por São Vicente. Resolveram construir, na serra do Felizardo, um pequeno santuário, dedicando-o a Nossa Senhora das Vitórias, cujo culto então estava em voga, assim como também a sua confraria que tinha a Medalha Milagrosa por insígnia e distintivo. Dom Viçoso veio de Mariana para colocar a primeira pedra. Benzeu-a com entusiasmo e confiança, pregando um piedoso sermão à sombra dos arvoredos da serra feliz. Achou poético o lugar. Tão lindo o achou que decidiu se construísse, também, ao lado da igrejinha, uma grande casa para noviços, missionários e exercícios espirituais. Determinou que se fizessem as portas e janelas iguais às da velha ermida do Irmão Lourenço. Mandou comprar, já e já, lâmpada, cálice e castiçais, custódia e turíbulo. Pediu que fosse reservado para sua moradia um quartinho de onde pudesse assistir à missa e visitar o Santíssimo Sacramento. Deu ao edifício começado o sugestivo nome de Cenáculo, exclamando:‘Oh! Se tivesse a felicidade de morar e morrer no Cenáculo, estou certo que Deus então me perdoaria todos os pecados e me livraria do inferno‘ .
Já em 1866, estava concluído, telhado e rebocado. Mas não se inaugurou o Cenáculo. Ficou abandonado e foi demolido. Nenhum noviço, nenhum missionário chegou a habitá-lo. No seu Cenáculo não morreu nem morou Dom Viçoso, que já tinha reunido, para lhe formar uma biblioteca, muitos livros ascéticos, nos quais escreveu com amor:‘do Cenáculo’ – e que se acham hoje na grande biblioteca do Caraça. Dom Viçoso foi entregar a alma a Deus na sua querida cartuxa de Mariana. “Raras vezes, fundação tão santa foi objeto de tantas esperanças, seguidas de tamanha desilusão…”
Vai, peregrino, contemplar as ruínas do Cenáculo. São talvez a imagem de muitos dos teus sonhos. Elas te ensinarão a murmurar: ‘Seja feita a santíssima vontade de Deus’.
Só ficou, na serra do Felizardo, a capelinha do Coração Imaculado de Maria, da Virgem justamente chamada Mãe dos Homens porque é a Mãe da Graça e distribuidora de todas as graças. O seu adro, cheio de pedras soltas e arbustos silvestres, é uma tribuna feita por Deus, de onde se avista toda a vasta e verde planície do Caraça.
Como é bom e salutar passear um pouco nessa sacada sem parapeito e lançar com toda a força dos pulmões e todo o ardor do coração, pela amplidão abaixo, a invocação: ‘Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós’.
Sobe, romeiro, a serra do Felizardo. É a serra dos milagres da medalha graciosa e feliz. É a feliz serra da Graça. Na solitária capelinha, Maria te dará a sua bênção, assegurando-te a felicidade de entrares um dia no céu.
O Cenáculo é uma ruína. E a própria igrejinha que ficou teve de mudar de nome. Não é mais do Coração de Maria a capela que os bons seminaristas de Mariana, sob a inspiração de seu diretor Miguel Sipolis, levantaram à sua custa e com a sua piedade. Dedicaram-na, posteriormente, os padres santos do Caraça ao Sagrado Coração de Jesus. E, assim, a Mãe passou ao Filho seu trono de graças, na poética serra do Felizardo. Talvez não quisesse a Virgem Mãe ter, ela só, dois tronos, e o seu Filho nenhum, nas montanhas do Caraça.
Por isso, romeiro feliz, depois de tua invocação a Maria Imaculada, canta mais devotamente ainda a felicitante jaculatória: ‘Coração de Jesus, tende compaixão de mim’. E Jesus ouvirá melhor a prece de sua Mãe e terá mais piedade de ti e mais certamente te dará a bem-aventurança eterna. Assim seja. Assim seja”.
Padre Pedro Sarneel, C.M.
Guia Sentimental do Caraça, 1953
Imagens das Ruínas no Cenáculo