Parte da vida é feita de encontros, desencontros e reencontros. Não existe nada nela que a gente não possa identificar deste jeito. Você encontra as coisas, se desencontra delas e às vezes reencontra. Com as pessoas também funciona assim, mas com uma minúcia muito especial: as emoções, os sentimentos, são eles que movem aquela vontade do encontro, do reencontro (do desencontro?), com o amigo, o desconhecido, o parente distante, a namorada, o pai, a avó, o irmão, o bichinho de estimação, enfim, aquele instante agradável na vida da pessoa… E uma boa parte do nosso tempo se passa assim. E há um local especial e sugestivo (bem pertinho da gente) para se passar boa parte deste tempo… Seria um local “mágico”?
Com certeza, o Santuário do Caraça é destes “lugares mágicos”, onde tudo isto acontece com mais intensidade, sabor e alegria, um verdadeiro “santuário” de encontros, desencontros e reencontros. Com sua história mais que bicentenária e com riqueza exuberante e incalculável de flora, fauna, cultura, história, religiosidade e pessoas, o Caraça é o local onde o botânico ávido por uma nova espécie de planta a encontra, dando pulos de alegria; o geólogo, triste da vida, volta para casa, desta vez com o desencontro com sua “pedra preciosa”; e o ornitólogo com as mãos trêmulas quase não consegue o foco desejado, com o reencontro com aquela ave que não avistava (estava extinta?), fazia décadas.
.
Tudo Isto faz parte do Caraça, ainda mais forte quando falamos das pessoas que frequentam a Casa, os visitantes de primeira viagem, de segunda, terceira, quarta… Dos alunos das excursões, dos pesquisadores, dos grupos da melhor idade, dos funcionários, dos padres e irmãos, além das freiras, e de todo tipo de gente de fora das Minas Gerais e do Brasil. Claro que está faltando um grupo aqui, um grupo muito especial, este sim, faz mais jus ao título, os ex-alunos do Caraça (um em especial – inspirador destas linhas), todos hoje em dia, todos com mais de 65 anos. Tem médico e contador, tem psiquiatra e psicólogo, tem padre e tem irmão, e tem ex-padre também, tem politico, professor, escritor, jornalista, aposentado, militar, advogado, delegado, tem quase tudo e para todos os gostos e necessidades.
Quando sentado do lado de fora da cantina junto a uma quase dezena de ex-alunos e ouvindo atentamente suas recordações de quando estudantes, seus feitos mirabolantes, suas aventuras pelo mato afora, suas escaladas, os rigorosos estudos, a disciplina e as orações, era fácil sentir o quão importante para eles é aquele momento de reencontro, depois de anos, talvez décadas sem se verem, e agora ali juntinhos saboreando aquela oportunidade ímpar em suas vidas. Para eles um reencontro, para outros, um encontro.
.
Sentado conosco àquela mesa repleta de casos empolgantes, um senhor e ex-aluno, “cabeça” já toda branquinha, e estudante daqui no início de 1950, tem o sabor de reencontrar velhos amigos dos tempos de estudos e soltar sua veia poética caracense… “Protegidas pelo ambiente melífluo do Caraça, que é marcado pela trilogia do S: Silêncio, Solidão e Santidade, nossas amizades, aqui iniciadas, se solidificaram, vencendo o tempo”. Este é o Rodolpho, apaixonado pelo Caraça, que estava há uns anos desencontrado com a Casa e os amigos, mas agora está de volta… “Que maravilha poder reencontrar antigos colegas, como o João Batista, seu irmão, o professor Geraldino Ferreira e família, o jornalista José Maria Mayrink, um grupo de mais de 20 pessoas, seus familiares. Doces lembranças dos tempos aqui vividos”. Se não bastasse esta surpresa com os ex-colegas, mais um reencontro casual, desta vez com um grupo de amigos que ele conheceu nos idos de 1974 (Maria Teresa, o marido Breno e Família), e para fechar com chave de ouro, a última surpresa: “Este reencontro parece que foi, como que por encanto, do “nada”, apareceu na minha frente meu velho amigo de longas caminhadas pelas montanhas, o Alexandre Lazaroto, com seu filho já com 23 anos. Foram recordações e mais recordações e promessas de novos encontros”.
Este é o Caraça, um lugar de encontros, desencontros e reencontros. Com coisas, lugares, situações e pessoas. Um lugar feliz!