16 dias de agonia caracense
Incêndio Florestal que atingiu a Serra do Caraça,
no período de 31 de agosto a 16 de setembro de 2011.
É necessário dizer que “Serra do Caraça” vai além da Reserva Particular do Patrimônio Natural – Santuário do Caraça (propriedade da Província Brasileira da Congregação da Missão).
A Serra do Caraça está protegida por 3 categorias de Unidade de Conservação:
- UC – Uso Sustentável – Reserva Particular do Patrimônio Natural – Santuário do Caraça (Portaria IBAMA, Nº32/94).
- UC – Uso Sustentável – Área de Preservação Permanente ao Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte / APA Sul RMBH (Decreto Estadual 35.624/1994).
- UC – Proteção Integral – Monumento Natural – Serra do Caraça (Constituição do Estado de Minas Gerais, 1989. Art.84).
Além do reconhecimento destas 3 categorias de UCs, a região da Serra do Caraça integra a área destinada das Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço Sul e da Mata Atlântica, reconhecidas pela UNESCO em 2005.
O incêndio florestal que atingiu a Serra do Caraça durou 16 dias.
Foram 3 focos de incêndio em 3 áreas diferentes da Serra do Caraça.
O 1º começou no dia 31 de agosto, conforme ocorrência policial, na propriedade de um vizinho da RPPN – Santuário do Caraça, no distrito de Conceição do Rio Acima, no Município de Santa Bárbara.
O 2º começou no dia 4 de setembro, conforme registro de ocorrência policial, na área de uma mineradora, no Município de Catas Altas – no distrito Morro d’Água Quente.
O 3º começou no final da tarde do dia 12 de setembro, próximo ao rancho do Capivari, onde há uma antiga estrada de acesso, utilizada pelos moradores da região e que também dá acesso à região de Capanema, já no município de Itabirito. A região do Capivari é vizinha do subdistrito Vigário da Vara, do Município de Santa Bárbara.
O 3º foco de incêndio surgiu justamente quando estava previsto o último dia de combate. A agonia caracense se prolongou por mais 4 dias.
Nos primeiros momentos do incêndio florestal, é papel da brigada local, com o apoio de brigadas da região, fazer os primeiros combates.
Quando o primeiro foco de incêndio é identificado, se solicita o apoio da Polícia Militar de Meio Ambiente que atua na região.
Se os esforços dos brigadistas não bastam, iniciam-se os primeiros contatos com o comando do Corpo de Bombeiro mais próximo da Unidade. No caso de uma Unidade de Conservação, à medida que a situação vai complicando, a Força Tarefa Previncêndio entra em ação.
Dia 9, já com o apoio da Força Tarefa Previncêndio e com 2 pontos da Serra sendo incendiados, foi necessário definir prioridades de combate. Havia duas áreas prioritárias: A área da Conceição, onde o incêndio já durava 10 dias e estava se aproximando de um fragmento de Mata Atlântica primária, local onde já foi avistado o macaco-bugio (animal ameaçado de extinção). E outra área, onde o incêndio já durava 6 dias e ameaçava destruir a mata (Mata Atlântica primária), onde se localizam as nascentes que garantem o abastecimento do Município de Catas Altas.
Posto de Comando da Força Tarefa Previncêndio no Centro de Visitantes do Caraça – todas as informações eram discutidas e novas estratégias eram definidas.
Sendo necessário indicar apenas uma área para iniciar um combate mais efetivo, a Direção do Caraça escolheu como prioridade o combate na propriedade de uma mineradora que faz divisa com a RPPN – Santuário do Caraça, no distrito do Morro d’Água Quente / Catas Altas – MG. Esta área foi definida como prioridade por causa das nascentes que abastecem o Município de Catas Altas, além de a mata ser um dos importantes fragmentos de Mata Atlântica primária.
Grande parte dos esforços ficou concentrada no Morro d’Água Quente, depois na mata da Conceição e um pouco abaixo do Pico do Sol.
Depois de eliminados estes 3 pontos de incêndio e com o surgimento do 3º foco, os últimos esforços foram concentrados na área do Capivari.
Nota: Definição de Força Tarefa Previncêndio: é coordenada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD, em parceria com a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros Militar, a Polícia Civil, a Coordenadoria de Defesa Civil, a Prefeitura Municipal de Curvelo e parceiros privados que constituem a Força Tarefa.
Os primeiros combates foram realizados pelos brigadistas do Caraça, seguindo com o apoio da Polícia Militar de Meio Ambiente que atua na região, ONG Brigada 1 – Belo Horizonte, de moradores da localidade de Conceição do Rio Acima, de Brigadas da Cenibra e da AngloGold. A partir do dia 9, já com a atuação da Força Tarefa Previncêndio, o número de combatentes estava em torno de 80. Desses 80, as brigadas foram: Caraça / Previncêndio / Corpo de Bombeiro / Voluntários e Amigos do Caraça / CORPAer/BH – Polícia Militar / BOA – Batalhão de Operações Aéreas / Polícia Civil / 2 pilotos “air tractor” do ICMBio / Valemix – Pedreira Um / AngloGold / ONG Terra Brasilis (Barão de Cocais, Mariana e Itabira).
Nas operações estavam presentes 1 helicóptero no apoio logístico (deslocamento dos brigadistas, levando alimentação, água de consumo e abastecendo as bombas costais nos lugares de difícil captação de água) e 2 aviões “air tractor” para o lançamento de água.
Por intermédio da Vale, os 2 air tractor vieram de Brasília, do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Além dessa relação citada acima, muitas pessoas, ONG’s, entidades e órgãos do governo Estadual e Federal foram parceiros nessa luta.
No dia 21 deste mês, com o grande apoio da Força Tarefa Previncêndio e a Polícia Civil que disponibilizou o helicóptero, foi realizada a medição das áreas queimadas.
Com esta medição, foram constatados 2.000 hectares de área queimada na Serra do Caraça. Lamentavelmente, uma grande área de rica biodiversidade. Este incêndio atingiu fragmentos dos Biomas ameaçados, Mata Atlântica primária e secundária, Cerrado e também áreas de Campo Rupestre.
Este incêndio florestal foi um dos maiores da história do Caraça.
Um dos focos de incêndio chegou a se aproximar do asfalto (único acesso) do Caraça. Por este motivo, foi determinada a suspensão temporária da visitação no Santuário do Caraça, nos períodos do dia 10 de setembro (a partir das 13h) até o dia 16 de setembro (a partir das 12h).
Além dos grandes esforços da Força Tarefa Previncêndio e de todos os envolvidos nesta luta, as condições climáticas na região favoreceram os combatentes. Nos dias 12 e 13, no início da manhã, houve uma pequena garoa, que auxiliou no “resfriamento” das labaredas. No dia 15, todos os esforços da Força Tarefa garantiram que o dia 16 seria apenas para fazer o rescaldo. Mas na manhã do dia 16, ocorreu uma precipitação de aproximadamente 4mm de chuva, que foi suficiente para poupar os esforços dos brigadistas na finalização dos trabalhos.
O incêndio florestal que ocorreu em 3 áreas da Serra do Caraça foi oficialmente debelado no dia 16 de setembro, às 11h.
Para finalizar o relato deste incêndio, é relevante dizer que não há como prever o tempo de regeneração dessas áreas atingidas, mas podemos afirmar que os fragmentos de Mata Atlântica (primária) consumidos pelo incêndio nunca mais se recomporão.
A Província Brasileira da Congregação da Missão – PBCM (conhecida como Padres e Irmãos Vicentinos ou Lazaristas), proprietária e mantenedora da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – Santuário do Caraça, lamenta muito o dano que sofreu, por causa desses incêndios de origem criminosa.
A Serra do Caraça está protegida graças aos séculos de dedicação da PBCM, que garante a proteção de um lugar em benefício comunitário, mantendo-o com recursos próprios e com poucos incentivos financeiros. Por estes motivos a PBCM e a Direção da RPPN – Santuário do Caraça será ETERNAMENTE agradecida a todos os que, de alguma maneira, dentro de suas possibilidades, lutaram neste combate.
PARABENIZAMOS também a todos que empenharam em todos os incêndios florestais que ocorreram e infelizmente continuam consumindo a nossa biodiversidade.
Que DEUS derrame suas copiosas bênçãos e os proteja para sempre!!!
Direção da RPPN – Santuário do Caraça