18 de junho no Caraça, apenas três dias para o início do inverno (mas pelo jeito ele resolveu dar as caras antes do dia “oficial”). Na parte da manhã, começa a movimentação no pátio da cantina, corre prá cá, corre prá lá, é hora de começar a fazer as decorações da Festa Junina do Caraça, com suas bandeirinhas coloridas, seus galhos de bambu, muito milho seco com casca e um painel muito bonito, cheio de chapéus de palha, que chamou a atenção de alguém especial e muito querido na Casa (mais tarde contamos).
Tudo começou há quase 30 anos, quando funcionários e seus familiares faziam um encontro de comemoração, Aí, alguém começou a transformar o ambiente, colocando enfeites alusivos a esta tradicional festa, que acontece de norte a sul do Brasil. Pronto, estava inaugurada a hoje já clássica e super esperada, Festa Junina dos Funcionários do Caraça.
Parte da tarde, temperatura caindo e um cheirinho subindo pelos ares. Parece que está vindo de dentro da cantina, uma olhada meio que indiscreta e já estava resolvida a questão. Aquele cheirinho que subia e se espalhava pelo ambiente, vinha da preparação dos “ensopados” (aquele cheiro de cravo e canela é insuperável) e outras delícias que seriam servidas mais tarde (caldo de feijão e mandioca com cebolinha, salsa e pimenta à vontade, canjica, pé-de-moleque, amendoim, beijinho quente, vinho quente, quentão, etc.).
Final da tarde, tudo montadinho e enfeitado, encontramos a Geraldinha (secretária e uma das organizadoras do evento), muito animada com a festa que está para acontecer. “Este momento de reunião é muito especial, reencontramos amigos e colegas de trabalho em um ambiente bem descontraído e muito alegre. É muito interessante ver uma comemoração com tantos laços, ver os hóspedes participando conosco, é muito gratificante. Mostra que nos tornamos uma grande família. Vários laços de amizades foram criados com o passar dos anos. Festejar é uma forma de valorizar o carinho e o cuidado que todos temos pelo Santuário do Caraça”, diz, quase declamando, a pequenina “menina”.
Começa a escurecer e o frio a aumentar, já é hora de tomar aquele banho (será) e se preparar para a Missa (nem todos vão), celebrada pelo diretor da Casa, Padre Lauro. Em sua homilia, lembrou a importância do seguimento primeiro de Jesus, através de seus ensinamentos e atitudes; o restante vem por acréscimo, frisou o sacerdote.
Chegada a hora de festa (21h),céu cheio de estrelas e termômetro marcando 8º graus, gente encapotada por todo lado, já vai começar… Espera aí um pouco, estamos sentindo a falta de alguém, o Vicente, onde está ele? Fomos perguntar e tivemos a resposta, inusitada, mas coerente de sua parte. Durante 13 anos o Vicente participou do quadro que dá inicio (casamento na roça), mas parece que tem uns 2 ou 3 anos que não quer mais participar; segundo ele, cansou-se de casar de mentirinha (risos), quem sabe um dia nosso ator principal volta…
O quadro do “casamento na roça” é muito “engraçado” e até debochado, feito por funcionários da Casa, que simulam o matrimônio com muita liberdade e uma certa malícia, lembrando da severidade dos pais, do sexo pré-nupcial e suas consequências, etc. Tal representação crítica acaba por reforçar os papéis sociais e os valores da moral tradicional, bem ao seu jeito… O enredo é simples: a noiva quase sempre está grávida; os pais da noiva obrigam o noivo a casar; este se recusa; é necessária a intervenção da polícia; depois o casamento se realiza com o padre fazendo a parte religiosa e o juiz fazendo o casamento civil, sob as garantias do delegado e seus soldados. A quadrilha é o baile de comemoração do casamento.
Hora da quadrilha, hora de esquentar, pois o frio já deve estar beirando os 5 graus. Quem não participou da quadrilha pode se esquentar com caldos e quentão, ou saborear o vinho de uva do Caraça, ou o fermentado de jabuticaba.
Quase meia-noite, quase 3 graus, hora de desligar o som e descansar (final da festa), cada um seguindo seu rumo; o nosso foi a Casa da Ponte, o mais frio de todos, ao lado do rio. Falei com o Pedrão e sua esposa Rosa (anfitriões), que estávamos entrando numa fria, literalmente, 0º, por volta das 6h30 de domingo. Frio é gostoso, mas este que passamos foi demais…
Já estava quase esquecendo: quem pediu ao Pe. Lauro o chapéu de palha foi o Vicente. Se ganhou, não sei, mas que merece mais que um isso merece.