Terminado o mês de janeiro, encerramos no Santuário do Caraça o período das férias de verão, depois de semanas de intenso trabalho para todos os que trabalham no Caraça. Apesar de alguma chuva, o Caraça recebeu muitas e muitas pessoas, famílias inteiras, crianças de todas as idades, pessoas de todas as profissões e de todos os setores da sociedade.
Todos, reunidos neste Santuário, puderam passar suas férias inteiras ou alguns dias de descanso em contato com a natureza, apreciando as visitas do lobo guará (ou melhor, dos lobos, pois certamente ainda estão aqui quatro lobos, como foi registrado no dia 30 de janeiro), admirando a beleza das águas e o frescor de seus banhos… Ademais, todos puderam vivenciar dias de proximidade afetiva e de fraternidade interpessoal, programando caminhadas em comum, partilhando a vida durante os passeios e mesmo nas cercanias do Santuário, onde sempre havia alguém aprofundando a leitura em busca de mais conhecimentos e, ao mesmo tempo, esperando um companheiro para uma prosa amiga e descontraída.
Como uma verdadeira colônia de férias, o Santuário do Caraça abrigou praticamente 100 hóspedes a cada dia, sendo que muitos por aqui ficaram semanas inteiras, como o Padre Lauro Palú, presença certa em todo dezembro e janeiro. Esse número, sempre elevado neste período, aponta para um 2010 com muitas visitas e hospedagem, como foi 2009, no qual recebemos 64800 visitantes e 17900 hóspedes.
Números tão significativos como esses mostram que nosso Caraça continua historicamente sua missão de Santuário religioso, ecológico e cultural, um lugar de encontro com Deus, consigo e com os irmãos e irmãs, lugar de reestruturação da vida, de retomada de valores e de aquisição de novos horizontes existenciais.
Ademais, nossa alegria foi grande devido à “Piracema” dos ex-alunos que completaram em 2010 aniversário jubilar de sua chegada ao Caraça. Recebemos aqui, no último final de semana, os ex-alunos de 1950 e 1960, numa bonita e alegre festa, cheia da sadia nostalgia caracense e da sempre fecunda amizade que a todos uniu nesta célebre Escola Apostólica.
Esperamos que, neste novo ano, todos os que aqui vierem seja profundamente abençoados por Deus, guardados em sua proteção e amparados em suas vidas e em seus empreendimentos. E que todos possam fazer a experiência de ouvir a Deus, se ouvir e ouvir o silêncio caracense, silêncio restaurador e transformador de vidas, como aparece tão bem expresso na poesia que se segue, deixada a nós por um jovem como lembrança da visita ao Caraça.
CARAÇA
Wagner Passos – Itanhandu-MG – 30/01/10
I
A noite é silêncio bruto que não se deve lapidar…
Aqui, ali, acolá
O Caraça dorme e se fecham-nos os olhos
Para outros se abrirem em melhor olhar.
Nos desvãos miúdos, a ninar
Que as matas nos propõem ocultar
Palpitam rincões efervescentes do natural
Seja ele lobo, jaguatirica ou coral
Que cobra, de seu igual-rival
O espaço feito, em si, seminal
De um berço singular
E que agora
Em boa hora
A lua cheia vem banhar.
No Caraça é bem fácil ver; se ver; se olhar…
Nesta madrugada, o difícil é enxergar…
Mas a noite é mesmo silêncio bruto que não se deve lapidar…
II
Aqui é mais difícil enxergar:
O minúsculo recôndito
O perplexo centímetro
O trêmulo centígrado
O irrequieto atômico
O calado a caçar.
Sim, agora é mais fácil se ver do que enxergar…
À noite, o santuário transpira arisca claridade
O mistério cintilante no ar
Uma luminosidade invisível
A natalidade do silêncio indizível
Na pauta pausada do firmamento-harmonia
De uma transcrita sinfonia
Regida pela maestrina lunar.
Esta noite é silêncio bruto que não se deve lapidar…
O improviso educado dos insetos
O respiro brando dos humanos
E o sino da igreja marcando
O compasso amplo e inalterável do Criador.
Sim, esta noite é silêncio bruto que não se deve lapidar…
III
Já tocam as doze badaladas
Toco eu agora a meia-noite, clamo-a
E, assim, vem densa dama faceira
Ler, por sobre meus ombros, primeira
Estas palavras que tento rimar.
O Caraça me embala de vida…
Se Deus é um amplo e profundo silêncio
Palavras podem-me errar
Portanto, para manter este frágil quebradiço sereno
Detenho-me agora, inteiriço pequeno
Na precisão do canto agudo de se calar.
Afinal, a noite é mesmo um silêncio divino-bruto que não se deve lapidar…