A festa do Corpo de Deus foi instituída no século XIII, pelo Papa Urbano IV. Aos poucos se espalhou pelo mundo a devoção de fazer uma grande procissão do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, pelas ruas das cidades. A ideia é mostrar nossas cidades a Deus e mostrar Deus às nossas cidades, isto é, ocupar nossas ruas com uma presença dos cristãos, especialmente dos católicos, que adoram a Eucaristia e a levam triunfalmente pelas ruas, pelos bairros, mostrando que a cidade ou a paróquia se alegra pela presença de Deus nas igrejas, nas capelas, especialmente nas capelas dos hospitais e das obras de caridade em favor dos mais necessitados.
No Caraça, nos tempos do seminário e do colégio, havia uma grande procissão, em que o Santíssimo Sacramento era levado de um altar erguido nalgum lugar bonito, de onde caminhávamos cantando e rezando até a igreja, com paradas em vários outros altares. Era a ideia de fazer Deus passar por nossos caminhos, mostrar-lhe como éramos felizes naqueles lugares e como estávamos contentes de ter seu Sacramento presente entre nós.
Mais que tudo, era bonito ver a procissão entrando pelo pátio do estacionamento em frente da casa, à sombra da igreja. Em toda a extensão do pátio, tínhamos desenhado uma imensa custódia, semelhante àquela que o Superior levava na procissão. Para a alvura da hóstia, buscávamos a areia branca da gruta de Lourdes, sacos e sacos. Com a mesma areia, tingíamos também quantidades para os enfeites da custódia, para as flores com que enfeitávamos a grande extensão da figura e coloríamos o resto do pátio. Era emocionante quando o padre e os que o abrigavam à sombra do pálio entravam no pátio e iam pisando a figura, feita para aquele momento de adoração e devoção.
Hoje, no Caraça, a festa é muito simples, pois a casa às vezes já está cheia de gente, mas, outras vezes, o pessoal que vai passar ali o fim de semana prolongado ainda está chegando ou chegou de madrugada e toma seu café, alguns vão dormir para recuperar a noite, outros saem logo para as primeiras trilhas e para o primeiro banho na Cascatinha, no rio, na prainha, nos Tabuões.
No mundo inteiro ainda se realizam procissões solenes, com os tapetes de flores nas ruas por onde passa o Santíssimo. Em muitas paróquias, em vez de flores, usam-se verduras que depois são levadas aos hospitais, à creche, ao orfanato, ao asilo dos idosos, como, noutras cidades, se enfeitam as ruas, as praças, com toalhas e panos com que se fazem depois roupas para os pobres e os necessitados. Já nas cidades muito grandes, questiona-se muito a prática das procissões, pelas dificuldades que criam para o trânsito em geral já tumultuado e problemático. Vê-se que a procissão é lembrança e uso de tempos mais calmos, de ruas menos congestionadas, de gente menos corrida, de vida mais simples.
Padre Lauro Palú, C.M.