Entrevista do Padre Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C.M.,
para o Jornal Voz do Caraça, de Santa Bárbara – MG
1 – Pe. Marcus, inicialmente gostaria que o senhor contasse um pouco da sua história. Onde nasceu, estudou, sua idade, como surgiu a vocação para o sacerdócio e sua vinda para o Caraça?
Nasci no dia 19 de abril de 1981, em Itanhandu, sul de MG, na divisa com SP e RJ. Estudei o ensino fundamental e médio em minha terra e vim para BH em 1999, para entrar no seminário e cursar filosofia e teologia. Terminei a faculdade em 2007. Emiti meus votos perpétuos na Congregação da Missão, fundada por São Vicente de Paulo, no dia 25 de março de 2006, fui ordenado diácono no dia 08 de setembro de 2007 e padre no dia 05 de abril de 2008. Cheguei ao Caraça no dia 01 de fevereiro de 2008, ainda como diácono, depois de trabalhar em Contagem numa paróquia operária e na Pastoral da Mulher Marginalizada em BH, com as mulheres do baixo meretrício. Uma experiência mais que divina e humanizadora!
Sempre quis ser padre, desde muito pequeno, e a Congregação de São Vicente me apareceu através das Filhas da Caridade que trabalhavam em minha terra. Fiquei encantado com o carisma do seguimento de Jesus na evangelização dos Pobres e, querendo ser Missionário, pedi que me aceitassem.
2 – No dia 1º de fevereiro, o senhor completou 2 anos no Santuário do Caraça. Como tem sido esta nova experiência em sua vida?
Uma experiência única! O Caraça não pode ser comparado com nada neste mundo. O trabalho é único, as relações que estabelecemos com as pessoas são muito ímpares. O Caraça recebe atualmente 65000 visitantes por ano e, em sua pousada, 17800 hóspedes. Desses, 1000 são estrangeiros. 10000 são estudantes das mais variadas escolas e universidades. Só por aí já se vê o que significa morar no Caraça. É estar com o Brasil e o mundo dentro de casa, em contato com as mais diferentes pessoas, dos mais distintos meios sociais e profissionais. Além da natureza exuberante (especialmente do nosso Lobo Guará!), da história, da cultura… Aqui no Caraça a cultura deu as mãos para a natureza, a história para a religião, a política para a santidade!
3 – Desde 1982, o Lobo Guará é alimentado pelos padres. Atualmente é o senhor quem faz a apresentação da “Hora do Lobo”. 0Embora não se enquadre na categoria crítica, o Guará corre alto risco de extinção na natureza a médio prazo. As principais ameaças ao lobo vêm da conversão de terras para agricultura e mineração, do fato de ser suscetível a doenças de cães domésticos e de acidentes como atropelamentos em estradas. Qual a importância desta atividade do Caraça para a preservação deste belíssimo animal?
Bem, o lobo não está mais na lista de animais ameaçados de extinção, mas sim de animais vulneráveis, ainda preocupante, mas não tanto como antes. A importância do Caraça é muito grande, especialmente pela possibilidade de deixar as pessoas perto do animal. A presença do lobo em meio a tantas pessoas desperta em todos e em cada visitante um sentimento de harmonia com o todo da criação, com a natureza, com o ser humano, com a sociedade. Estar tão perto de um animal, que vem tranquilamente se alimentar perto de todos, faz com que nossos visitantes e hóspedes percebem que o mundo pode ser diferente, que as relações podem ser mais humanas, que a harmonia da criação pode ser preservada, que os animais podem ser protegidos e que com eles podemos conviver muito bem, desde que cada um respeite o espaço e as particularidades do outro. Em poucas palavras, é uma experiência de harmonia universal!
4 – Tudo é anotado em seu diário, desde movimentos, comportamento, testemunhos de outras pessoas, enfim tudo referente ao Lobo Guará. Há alguma coisa nova que foi descoberto ou alguma curiosidade sobre o animal?
Bem, algo muito inusitado que houve ano passado é que os lobos não disputaram o território e também não acasalaram, algo muito raro de acontecer. Talvez seja a pressão antrópica, provocada pelas escavações e desequilíbrios do entorno, pela destruição da natureza e pela depredação das riquezas naturais da região. Parece que os lobos estão ficando mais presos no Caraça, inclusive tendo mais caças e possibilidades de sobrevivência aqui dentro do Caraça, o que, bem analisado, é prejudicial, pois é uma interferência na vida dos lobos.
O costumeiro, como sempre foi aqui no Caraça, é a existência de apenas um casal em todo o território. Inclusive, nos últimos dias de janeiro, vimos aqui na porta de nosso Igreja, quatro lobos, sinal de que os cinco do ano passado certamente ainda estão aqui.
5 – Deixe uma mensagem para nossos leitores?
Uma palavra final seria convidar a todos para virem ao Santuário do Caraça a fim de desfrutar as belezas de nossa Serra. Que a vinda de cada um ao Caraça seja um momento de muita bênção de Deus para nossos visitantes e hóspedes. E que, ao entrar nesta Casa de Nossa Senhora Mãe dos Homens, cada qual deixe o próprio Caraça entrar em si, se alojando no coração dos amigos e trazendo a cada um uma luz muito especial que só nos pode vir do coração do Bom Deus. Enfim, até o Caraça!!!