O dia amanheceu com sol forte e os funcionários do Caraça que se encarregavam da I Mostra Gastronômica, se preparavam apressados para descer à Santa Bárbara levando os materiais que fariam parte da mostra. Tudo era feito com muito cuidado, respeito e responsabilidade por ser a primeira vez que tantas raridades deixariam a segurança da casa do Caraça para descer até onde o povo estava. Participar da I Mostra Gastronômica foi uma decisão difícil para o Caraça e que envolveu todos os setores do Santuário e da Fazenda do Engenho com suas quitandas e produtos da horta orgânica. Esta dificuldade não se refere apenas pela complexidade administrativa do Caraça, seus setores e sua condição de RPPN ou pelo enorme risco de movimentar peças históricas e raras, mas também por estarmos comemorando no mesmo fim de semana o Jubileu de ouro de nosso diretor Pe. Lauro Palú, que completou 50 anos de sacerdócio. Comemoração que movimentou a comunidade e deixou a casa com sua capacidade de hospedagem completa. No entanto, o tema da mostra é de tal importância que mais uma vez o Caraça como difusor de cultura, não poderia se omitir por comodidade ou por qualquer outro motivo que fosse.
Falar de comida, principalmente a mineira é falar da alma da gente das minas, com seus produtos, técnicas e história, e a casa do Caraça é talvez o único lugar em Minas Gerais em que esta história pode ser contada e comprovada por documentos livros e materiais, muitas vezes ainda em uso.Sabíamos da importância do que ia ser apresentado, mas não sabíamos a abrangência que esta a mostra teria. Para discutir a mostra, mesmo com o convite tendo sido feito com apenas dois dias de antecedência estiveram presentes no espaço: Chef internacional, antropólogo, secretárias de cultura, vários representantes de entidade de desenvolvimento ligadas à área, médico trofoterapeta, cozinheiros, proprietários de restaurantes, e simpatizantes da causa, além do Diretor administrativo do Caraça Pe. Luís Carlos do Vale. Que confirmaram a relevância da região do Entre Serras da Piedade ao Caraça no que se refere à gastronomia mineira.
Pela manhã de sábado tivemos os preparos das comidas feitos e distribuídos aos visitantes pelas Mestras do Caraça D. Maria da Anunciação e Fátima Pereira, que prepararam um doce de moranga e milho um creme de banana verde com carne desfiada e cebolinha, o brocojó antigo pão do Caraça e ainda um pão de batata e bacalhau, e durante todo o sábado o fogo supitou o tempo todo. Bonito era ver as crianças que diziam o que eles vão fazer naquele iglu?(forno de barro), outro dizia sobre o mesmo forno: olha que churrasqueira diferente, as velhas senhoras mexiam emocionadas o doce na taxa lembrando-se da roça, da fazenda e dos seus antepassados.
Foram momentos emocionantes onde a tradição culinária que deu origem à tão famosa comida mineira se encontrava novamente viva em meio a sua gente, se fazendo conhecer a suas crianças e jovens que curiosos participavam daquele momento de encontro. Jamais os que viveram esta experiência irão se confundir ou se esquecer do forno de lenha, da fornalha e do fogão que naquele dia fizeram parte de uma casa que era de todos, e exalava um aroma de aconchego, hospitalidade e pão no forno.
Debate sobre a gastronomia