Afonso Augusto Moreira Pena (1847 a 1909), filho de Domingos José Teixeira Pena e Ana Moreira Teixeira Pena, nasceu em Santa Bárbara-MG no dia 30 de novembro de 1847.
Iniciou seus estudos no Colégio do Caraça, de 1859 a 1863, com outros dois irmãos, Manoel e Domingos. Sua matrícula, no livro iniciado em 1856, por ocasião da reabertura do Colégio, depois de sua transferência, em 1842, para Campo Belo da Farinha Podre, no Triângulo Mineiro (hoje, Campina Verde-MG), é a matrícula n° 149, com data de 28 de novembro de 1859. Quando foi matriculado, trabalhavam no Caraça, além de 5 Irmãos, os seguintes Padres: Mariano Maller (Superior), José Joaquim Alves, Antônio de Morais Torres, Antônio Gonçalves, Manuel Ferreira, Domingos Musci (diretor do Colégio), Pedro Fressange, Bartolomeu Sipolis e Eusébio Fréret. Depois, já ao final de seu tempo no Caraça, foi educado também pelo renomado Padre Miguel Maria Sípolis (Superior, a partir de 1962).
Aluno dedicado, o menino Afonso Pena tinha como passatempo predileto a leitura. Mesmo nos domingos e feriados, quando seus colegas aproveitavam para brincar, ele preferia ler. Aos 9 anos, inclusive, já lia clássicos como Cícero.
Tendo mantido um bom relacionamento com todos os Padres do Caraça e conhecedor da excelência acadêmica desta Casa, mais tarde matriculou quatro de seus filhos no Colégio, para receberem suas primeiras lições de humanidade e de cultura geral.
Terminou seus estudos no Colégio do Caraça, a 30 de Junho de 1863. Consta que, após a conclusão de seus estudos, recebeu o seguinte parecer do Colégio do Caraça: “Certifico que o senhor Afonso Augusto Moreira Penna, durante 3 anos que frequentou as aulas de francês, inglês, geografia, história, matemáticas, aritmética, álgebra e geometria, retórica e filosofia, com aplicação constante e tão notável proveito, que nos exames de todas as ditas faculdades foi aprovado plenamente com louvor e dado por pronto, por voto unânime dos examinadores. Certifico outrossim que o mesmo colegial teve um procedimento exemplar, pelo qual mereceu a estima de seus mestres. Colégio do Caraça, 16 de janeiro de 1864. Padre Miguel Maria Sípolis – Sup. Do Caraça”.
Depois, em 1866, foi para São Paulo, formando-se em Direito em 1870. Neste tempo, foi colega de personalidades como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Castro Alves e Rodrigues Alves. Bacharelou-se em Direito juntamente com Bias Fortes, Francisco de Assis Tavares, Tomé Pires de Ávila e Rui Barbosa. Como advogado, mudou-se para Barbacena-MG, onde iniciou sua carreira no Direito, defendendo, especialmente, os Pobres e os escravos. Como importante advogado, alguns anos depois, em 1892, fundou, com outros companheiros, a Faculdade de Livre Direito de Minas Gerais (hoje, Faculdade de Direito da UFMG).
Afonso Pena se casou no dia 23 de janeiro de 1875, já como deputado eleito por Minas Gerais, com Maria Guilhermina, filha do Visconde de Carandaí. Com ela, teve 9 filhos: Maria Conceição, Afonso Pena Junior, Regina, Álvaro, Otávio, Salvador, Alexandre, Dora e Olga.
Sua carreira política se iniciou em 1874, quando foi eleito deputado por Minas Gerais (até 1879). Depois, serviu o Império do Brasil, sob Dom Pedro II, como Conselheiro e Ministro da Guerra (1882), da Agricultura, Comércio e Obras Públicas (1883-1884) e da Justiça (1885).
Esteve com o próprio Imperador quando de sua visita a Minas Gerais, visita esta que trouxe Sua Majestade ao Caraça entre os dias 11 e 13 de abril de 1881. Sobre Afonso Pena, Dom Pedro II registrou em seu Diário: “Diversos cavaleiros entre eles Afonso Pena vieram ao meu encontro. A caravana entrou reunida de novo em S. João do Morro Grande pouco depois de 11 ½. (…) Depois margeia-se o Rio de Brumado. Excavações curiosas de explorações antigas de ouro. A povoação de Brumado tem suas casas, sendo a principal a que pertenceu a Sebastião Pena avô do deputado. Aí parou meu pai. Disse-me o deputado que havia na casa bonitas pinturas. Pouco adiante despediu-se ele depois de dizer-me que a principal indústria atual destas várzeas é a criação de muares” (11 de abril de 1881).
Entre 1892 e 1894, foi Presidente de Minas Gerais, o primeiro a ser eleito por voto direto. Durante seu governo, fez a transferência da capital de Ouro Preto para a Freguesia do Curral d’El Rei (hoje, Belo Horizonte-MG). Em seguida, foi Presidente do Banco do Brasil (1895-1898) e, em seguida, senador por Minas Gerais (1899).
Deste seu tempo como Presidente de Minas, temos uma narrativa muito familiar e interessante, colhida do livro Se não me falha a memória, de Joaquim de Salles, contemporâneo de Afonso Pena Junior, filho do então Presidente da Província, no Colégio do Caraça, em 1892. Esta narrativa, além da beleza própria de seu estilo literário, mostra um pouco da rotina do Colégio no final do século XIX, algo de seus princípios educacionais e ainda faz algumas anotações sobre o próprio Presidente e seu filho, também ilustre advogado e político, ensaísta literário, professor e imortal da Academia Brasileira de Letras:
“Do Calvário, para onde primeiro nos levara o Padre Ubaldo, saímos, por ordem dele, em direção ao Tanquinho. Espalhados por um pequeno morro, que se erguia ao lado daquela grande piscina que era o Tanquinho, os meninos descortinariam, a breve distância, a estrada que vem de Santa Bárbara, passagem freqüente das conduções, único tema de todas as conversas e ponto de mira das esperanças mais próximas da gurizada.
Ao chegarmos ao alto do montículo, cada um tomou posição. Sentados sobre pedras ou capins, ou formando pequenos grupos aqui e acolá, entretinham-se todos com as conversas naturais da idade e das circunstâncias, à espera das desejadas caravanas. O acaso colocou-me ao lado do pequeno que seria, por 48 horas, meu companheiro de forma. Antes de lhe dirigir a palavra, pus-me a examiná-lo um instante; agradava-me a sua cor rubicunda, os modos modestos, os olhos claros, a mesma maneira de falar, o recato. E para encetar o cavaco, perguntei-lhe o nome, e o menino, olhos voltados para a estrada, sem mesmo me fixar, respondeu prontamente, com naturalidade:
– Áfono Augusto Moreira Pena Junior, filho do Presidente do Estado de Minas Gerais.
Não havia no próprio tom de suas palavras a menor afetação nem se afigurou vaidosa aquela resposta para mim inesperada. Revelava apenas o feitio do grande advogado em embrião. Queria as coisas com exata precisão. Documentava a sua perfeita identidade, não dando lugar a sofismas. Eu, porém, ligava intimamente a importância da origem à idéia de fortuna, e tinha para mim que o menino mais importante devia ser forçosamente o mais rico. Talvez não se julgasse o mais importante, nem mesmo sequer importante, porém todos o tinham como a inteligência mais brilhante do Colégio.
E recomecei a examiná-lo de novo. A sua batina de duraque estava como as de todos os outros, um tanto ruça e descorada. Notavam-se nela até algumas pequenas cerziduras. Os sapatos pretos apresentavam os saltos assaz carcomidos. E depois… estava sozinho, isolado. Não desfrutava de maiores rapapés. Ao vê-lo, ninguém imaginaria a importância de sua filiação. Era um menino igual aos outros. Logo, o que valia no Caraça não eram qualidades alheias ao aluno, mas as de que cada um fosse dotado e por seu esforço próprio procurasse cultivar e aperfeiçoar. Assim até eu poderia vir a ser um aluno tão marcado como o próprio filho do Presidente do Estado, o que, a meu ver, era mais que uma esperança: um poderoso aguilhão a despertar os meus brios para a realização e o firme propósito de me tornar, pela aplicação e conduta, um bom e, talvez, até um grande estudante. Não fui dos piores, em parte devido àquela resposta do bom menino, dita com simplicidade, à guisa de mera informação para satisfazer a curiosidade de um novato de onze anos. Foram para mim um constante incentivo para me fazer por meu próprio esforço, tomando por modelo aquele pequeno que todos admiravam, não por ser filho do Presidente do Estado, mas por estar seguindo as pegadas que o Conselheiro Afonso Pena deixara naquela casa, quando tinha a idade de seu primogênito, e, como ele, fora aluno laureado do velho Caraça”.
Em 1893, o Presidente Afonso Pena veio ao Caraça para a inauguração da energia elétrica, possível nas alturas desta Serra do Espinhaço devido à maestria do Padre Luis Gonzaga Boavida, que criou aqui a segunda usina do Estado de Minas Gerais. Para alegria dos Padres, Irmãos e alunos do Caraça, o convite dirigido ao Presidente Afonso Pena foi aceito com gratidão e reverência. Para receber e servir de hospedagem para o ilustre visitante e ex-aluno, foi então reformado e reorganizado o sobrado onde funcionavam algumas oficinas para os serviços da Casa. Por isso, atualmente, chama-se Sobradinho Afonso Pena, onde agora funcionam a recepção e a secretaria, além de alguns apartamentos para hospedagem.
Continuando sua ascendente carreira política, em 1902, Afonso Pena foi Vice-Presidente da República, quando da eleição de Rodrigues Alves, substituindo Francisco Silviano de Almeida Brandão, que morreu antes da posse. Na seguinte eleição, em 1906, foi eleito Presidente da República, o sexto a ocupar a presidência da recém proclamada República do Brasil.
Mesmo tendo sido eleito com base na chamada Política do Café-com-Leite, realizou uma administração que não se prendeu a interesses regionais. Incentivou a criação de ferrovias, ligando o sudeste do país ao sul, e interligou por meio de fio telegráfico a distante Amazônia ao Rio de Janeiro, então capital da República.
Foi Afonso Pena quem fez a primeira compra estatal de café, em vigor na República Velha, transferindo para o Governo Federal os encargos da valorização do café, que antes ficavam por conta dos interesses regionais comandados pelas oligarquias de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
Ademais, modernizou o Exército e a Marinha e instituiu o serviço militar obrigatório. Tendo como lema “Governar é povoar”, muito incentivou a imigração.
Os ministérios de seu governo eram ocupados por políticos muito jovens, por cujo motivo receberam a alcunha de “Jardim de Infância”. No entanto, respeitavam muito sua autoridade e sabiam que o Presidente da República os tinha apenas como auxiliares, não como executores da presidência. Isso está muito claro na carta dirigida por Afonso Pena a Rui Barbosa, um de seus críticos: “Na distribuição das pastas não me preocupei com a política, pois essa direção me cabe, segundo as boas normas do regime. Os ministros executarão meu pensamento. Quem faz a política sou eu”.
Em meio a crises políticas e criticado pelas oligarquias do país, faleceu sem terminar seu mandato no dia 23 de junho de 1909, na cidade do Rio de Janeiro. Antes de morrer, no entanto, recebeu a vista de Irmã Paula, Filha da Caridade de São Vicente de Paulo, da mesma espiritualidade dos Padres do Caraça que o haviam educado. A presença, junto de seu leito de morte, daquela Irmã, responsável por um dispensário que auxiliava os Pobres no Rio de Janeiro, era o testemunho mais seguro possível do agradecimento de todo o Brasil, especialmente dos mais pobres e abandonados, que nunca foram esquecidos pelo Presidente.
Com seu último suspiro, morria o grande filho de Minas Gerais, 6° Presidente da República, cumprindo seus deveres e amando a Deus, sua pátria, a liberdade e sua família, como sempre gostava de dizer como testemunho de si próprio.
Cem anos depois, a 13 de fevereiro de 2009, por ocasião das homenagens no centenário de seu falecimento, seus restos mortais foram transladados para Santa Bárbara-MG, sua terra natal, onde repousam enobrecendo a cidade que o ofereceu ao país.