“Trabalho investe na recuperação da antiga horta do santuário e envolve produtores da região no resgate das tradicionais hortaliças da culinária mineira”
Uma parceria que une história, culinária, turismo e agricultura. A união destes elementos está permitindo a recuperação de hortaliças tradicionais que influenciaram a gastronomia mineira. O trabalho é realizado pela Emater-MG com o Santuário do Caraça. Quem visita hoje o santuário encontra uma horta com mais de 65 espécies de plantas entre hortaliças e ervas aromáticas.
Muitas das hortaliças que atualmente são cultivadas no Santuário do Caraça estavam em desuso pela população, mas tiveram grande influência na culinária típica do local e da região. “Levamos sementes e mudas de várias espécies entre elas a bertalha, peixinho, capuchinha, e cinco variedades de cará (roxo, moela, caramujo, São Tomé e florido)”, além das tradicionais ou não convencionais, como a taioba, araruta, oro-pro-nóbis, mangarito, azedinha, vinagreira, peixinho, jacutupé e muitas outras usadas em pratos específicos da culinária mineira e brasileira”, relatou o engenheiro agrônomo Georgeton Silveira, da Emater.
Para Georgeton, a iniciativa em Caraça, é um casamento que tem tudo para dar certo. “A primeira etapa, de implantação do banco de mudas e sementes, foi sensibilizadora, pois mobilizamos e interagimos com produtores de quatro municípios para que eles façam agora a reprodução dessas plantas. Iniciamos também um diálogo com os proprietários de restaurantes para que num futuro próximo, esses produtores possam ampliar a produção e abastecer o mercado da gastronomia”, explica.
Estudar para resgatar…
Há sete anos se dedicando a estudar as origens da culinária em Minas, resgatando receitas e histórias registradas em livros, preservados nas bibliotecas da Serra da Piedade, onde pesquisou por cinco, anos e agora no Caraça, Vani Fonseca Pedrosa, é só elogios quando fala da parceria com a Emater-MG. “Poucas coisas deram tão certo quanto essa parceria com a Emater. O apoio foi muito importante. A empresa orientou na montagem das estufas (para evitar ataques de pássaros nas plantas, como o jacu, muito presente na fauna da região); trouxe várias mudas de verduras e variedades de inhame”, ressaltou Vani.
Segundo ela, a recuperação da horta faz parte de um projeto maior sobre os primórdios da cozinha mineira. “Temos publicações de 1816 e 1856 que falam da horta do Caraça, sempre no mesmo espaço, desde a fundação do Santuário, em 1774”, revela. Vani aponta inclusive, descrições do botânico francês, Auguste de Saint-Hilaire. Famoso há quase dois séculos pela viagem que fez ao Brasil, esse naturalista catalogou e deu nome a várias espécies da flora do nosso país e de Minas.
Sobre o destino da produção da horta do Caraça, Pedrosa informa que está sendo utilizada nas refeições oferecidas aos hóspedes da pousada e aos turistas que frequentam o restaurante do local.
“A gente quer recuperar e oferecer essas verduras tradicionais ou não convencionais e o Caraça é uma vitrine desse projeto. Recebemos muitos visitantes e pesquisadores de vários países como França, Alemanha e Estados Unidos”.
De acordo com Vani, esse é um trabalho que mostra a possibilidade de interagir com a gastronomia e a Frente Pela Gastronomia Mineira, órgão divulgador dessa ação e de outras, como a que envolve o reconhecimento da região como produtora do queijo minas artesanal. “A propagação e divulgação dessas hortaliças pode gerar renda no campo e trazer à tona sabores, experiências e inspirações do passado”, finalizou.