Um dos lugares mais visitados do Santuário do Caraça são as Catacumbas. Este nome lembra os grandes cemitérios que há em Roma, dos tempos do início do Cristianismo, onde os primeiros fiéis se reuniam para rezar e celebrar, especialmente nos tempos de perseguição religiosa, quando não se podiam celebrar os ritos em público. Pode significar também simplesmente um cemitério, como é o caso do Caraça.
Ali está sepultado o Fundador do Colégio do Caraça, Padre Leandro Rebello Peixoto e Castro. O outro Fundador do Caraça, o Padre Antônio Ferreira Viçoso, foi sepultado na cripta da Catedral Basílica de Mariana, onde foi Bispo, o nosso Dom Viçoso. Nos túmulos, podemos ler os nomes de alguns Padres que foram grandes missionários, professores e formadores, nos tempos do Colégio e do Seminário, e também de alguns Irmãos de nossa Congregação.
Os visitantes se perguntam por que estão ali alguns nomes como visitantes, algum como aluno, outros sem nenhuma qualificação que os identifique. Algum que morreu aqui mesmo e não pôde ser levado para sepultar em sua cidade. Há alguns nomes femininos, como os de alguma senhora cujo filho era professor do Caraça e conseguiu transladá-la para a sombra sagrada do Santuário.
Ainda há algumas gavetas vazias, esperando por nós. Outras pequenas partes foram construídas para abrigar os restos mortais de vários Padres de nossa Província que haviam sido sepultados no Rio de Janeiro, em Petrópolis, em Belo Horizonte, etc. Em geral, somos sepultados nos lugares onde morremos. Mas muitas vezes os lugares já estão todos ocupados e é preciso remover os restos mortais que ainda existem, que vão ser trazidos numa urna, liberando espaço para outros, nessas cidades.
Quando as pessoas visitam as catacumbas, às vezes brincam distraidamente, uns só por curiosidade, outros enfarados de ter que ir com a excursão e escutar mais explicações dos guias… Mas há ex-Alunos do Caraça e de outros seminários onde trabalharam nossos Padres, que visitam devotamente esse santuário especial, onde rezam, agradecem pelas bênçãos recebidas dos antigos professores e confessores, dos amigos e conhecidos. E que pensam na própria hora final, preparando-se para ela com medo e aflição ou com reverência, fé e serenidade.
Um dos que foram sepultados nas catacumbas foi o Padre Pedro Sarneel, um grande amoroso do Caraça, que escreveu um belo poema latino, onde diz que ali estão sepultados amigos caracenses, protegidos pela sombra de Deus. E diz: “Para eles, bom leitor, a paz de Cristo e o teu louvor agradecido”.
Duas curiosidades: Há outro cemitério, no caminho para o antigo campo de futebol dos seminaristas. Eu brinco muitas vezes que quero ser enterrado ali, quando chegar minha hora, para ficar ouvindo os sabiás e os tico-ticos nas tardes da primavera e do verão. Mas, na realidade (é sempre parte da brincadeira), é porque nas catacumbas acho que é muito frio… Contei isso a um amigo de Belo Horizonte e ele disse que não quer ser enterrado é no Cemitério do Bonfim, porque lá tem muito escorpião… E um amigo de nós dois que nos ouvia disse que não quer ser enterrado é em lugar nenhum… enquanto depender dele… Esse sim é que tem juízo e não fica falando bobagem com coisa séria.
No dia de Finados, recordamos nossos parentes, amigos e benfeitores, conhecidos e ligados de alguma forma ao Caraça. Rezamos por eles, pedindo a Deus que os tenha em sua glória, os recompense pelo bem que fizeram a todos, e nos leve também para sua companhia, na luz de Jesus Cristo, nosso Irmão Maior, que nos precedeu na Morte e na Ressurreição. Quando a criançada das escolas visita as catacumbas, há meninos e meninas que ficam sérios, pensativos, amadurecem num minuto um ano inteiro, saem silenciosos, tocados, sintonizados.
Um bom lugar de paz, de reconciliação, de saudades, de esperança e expectativa.
Padre Lauro Palú, C.M.