O fundador do Caraça foi o Irmão Lourenço de Nossa Senhora. Era irmão da Ordem Terceira de São Francisco e, ao fazer a profissão religiosa, jurou proclamar e defender a Imaculada Conceição da Virgem Maria. A Mãe de Deus o recompensou com uma graça muitíssimo especial, pois apareceu ao Irmão Lourenço, pouco antes da morte dele, no dia 27 de outubro de 1819. Pelas indicações que temos, o Irmão morreu com mais de noventa anos. Nos últimos meses de sua vida, especialmente desde julho, estava cego e andava triste e abatido, sentindo que sua obra, a ermida e a hospedaria dos peregrinos, ia fracassar e desaparecer. Assim se queixava a quem o visitasse, como o disse ao cônego Inocêncio, que viera de Mariana para administrar-lhe a unção dos doentes.
No primeiro quarto ao lado da cela do Irmão Lourenço, sem poder fazer nada, o padre ouvia durante a noite os gemidos dolorosos do enfermo, até que, num certo momento, pareceu que ele se aquietara, talvez dormisse, serenada sua dor, sua angústia, a aflição constante.
De manhã cedo, o Irmão Lourenço lhe contou: “Ah! Meu Padre, eu tudo vos direi porque sois o meu confessor. Enchia-me de tristeza o pensamento do abandono em que ia ficar o nosso Santuário, depois da minha morte… Mas Nossa Senhora quis dar-me certeza de que não abandonaria a sua obra… que, em breve, virão padres devotados à salvação do povo e à educação da mocidade. Agora estou contente e vou morrer tranquilo com esta esperança”.
Assim contam as antigas crônicas do Caraça. Não foi por simples coincidência, mas pela adorável e amorosa providência de Deus que, no dia da morte do Irmão Lourenço, fazia exatamente um mês que haviam embarcado no navio em Lisboa os Padres prometidos por Nossa Senhora. Chegaram ao Rio de Janeiro dia 7 de dezembro. A doação que o Irmão Lourenço fizera por testamento ao rei de Portugal, eles a receberam por carta de Dom João VI de 30 de janeiro de 1820. Os padres chegaram ao Caraça dia 15 de abril; no dia seguinte, pediram ao juiz de fora da comarca de Sabará que lhes viesse dar posse da ermida, da hospedaria e das terras do Caraça, o que aconteceu no dia 29 de abril.
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Em junho, o Padre Leandro Rebelo Peixoto e Castro e o Pe. Antônio Ferreira Viçoso desceram a Catas Altas, para pregar a primeira missão; de lá seguiram para nova missão em Barbacena, de onde voltou o Pe. Viçoso, indo o Pe. Leandro até o Rio de Janeiro, de onde chegou em julho com 4 moços, que foram os primeiros alunos do Caraça.
Hoje, o quarto onde o Irmão Lourenço agonizou é uma capela, a sala de oração dos Padres e do Irmão que dirigem o Caraça. É com a maior emoção, cada dia, que os Padres Wilson Belloni e Luís Carlos do Vale Fundão, o Irmão Edmar Roque Teixeira e eu, o atual diretor do Caraça, rezamos, naquele ambiente sagrado, onde Nossa Senhora apareceu e continua a derramar suas graças sobre nós, os missionários que ela prometeu e enviou, abençoa e fortalece nas necessidades de cada dia.
Ali os Padres e o Irmão rezamos e meditamos, durante os dias da semana, recebendo a bênção de Nossa Senhora e as graças que Deus nos concede para nossa missão no Santuário. A serenidade que nos dá este lugar, a responsabilidade extraordinária que suscita em nossos corações o saber que estamos cumprindo uma promessa de Nossa Senhora! Ali rezamos pelos nossos hóspedes e visitantes, pelos nossos Funcionários e por suas Famílias, ali os apresentamos cada dia para a proteção de Nossa Senhora e a luz de Deus.
Sem precisar ir a Fátima, Paris, Lourdes, Salette ou Medjugorje, podemos sentir no Caraça a presença de Nossa Senhora e receber sua bênção.
Padre Lauro Palú, C.M.