Encontro festivo dos ex-alunos e amigos da Casa aconteceu de 10 a 12 de outubro no Santuário do Caraça
A grande caravana de outubro
A chegada tão esperada:
A caravana começou com os primeiros chegados, na véspera. Foi uma alegria enorme ver a quantidade de gente que descia do ônibus vindo da estação do trem para o café na casa do Joaquim Medina, no condomínio dos ex-Alunos. Uma grande família alegre, conversadeira, feliz e encantada com as amizades reencontradas e vivas.
Igual, horas depois, à recepção de todos na adega do Caraça, recente e competentemente reformada, com o hidromel, o vinho de laranja, o queijo curado da Fazenda do Engenho.
Almoço no refeitório:
Uma das coisas boas da antiga pedagogia, a leitura no refeitório. A bíblia em latim, no começo, um romance ou aventuras, durante o almoço, e o martyrologium em latim, no final. Os daquele tempo gostam de reviver as orações e leituras latinas, embora a maioria absoluta já não entenda quase nada. O Joaquim Medina leu os santos do dia seguinte, mártires, doutores, eremitas, monges e freiras, de todo lado e época. E o Jarbas Martins Rocha leu páginas sobre a amizade, dando o sentido do que vivíamos ali, ex-Alunos e Amigos.
Se o Superior dava um sinal da campainha, todos sabiam que o leitor errara a pronúncia, fizera uma ligação errada, truncara a frase. E a meninada esforçada antes da correção já sabia o que fora e o que deveria ser, quando o leitor se corrigisse. Essa compreensão do que se lê é o que mais falta aos jovens hoje, por toda parte.
Primeira tarde e noite:
Apesar da novidade das ações, custou-nos arrancar os sentados na cantina, com copos e latas de cerveja, para ir plantar os 7 pinheiros comemorativos dos primeiros 70 anos da AEALAC e para a apropriação da Prainha, doravante chamada Prainha dos ex-Alunos (já que o Banho dos Alunos, no rio, virou Banho do Imperador)… Claro que nenhum deles tomaria banho, na água ainda gelada, e no futuro, em qualquer época, será mais a prainha dos netos dos ex-Alunos do que deles mesmos…
Depois do jantar e da missa, que terminava o tríduo de Nossa Senhora Mãe dos Homens, Padroeira oficial do Caraça, houve a assembleia da Associação, com prestação de contas, comentários das promoções havidas e por haver (algum planejamento e novas ideias), homenagem aos que chegaram e concluíram em 1945, 55 e 65, um breve concerto (apreciadíssimo) do coral Crescere, pelos seus 25 anos (Mozart, Verdi e outro compositor também já falecido…). E ir dormir, que ninguém é de ferro.
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11 de outubro, o domingão:
O domingo começou sem a prometida “alvorada” pela Banda Padre Boavida, que havia outrora. Hoje, a banda sobrevive em CDs (no Rio de Janeiro, faleceu há pouco o seu último maestro, o [Padre] José Fernandes da Silva).
Depois do café, no auditório do 3º andar, os Alunos tiveram a “aula da saudade”, que foi pedida ao Pe. Lauro Palú, Diretor do Caraça. Pe. Lauro começou com a chamada dos 32 colegas do ano em que chegou, 1953. Não foi para mostrar memória, mas todos entendemos que memória se faz de lembranças afetuosas dos colegas, e íamos dizendo onde o cara estava, se por ali, mas chegando para a aula, se ainda vivo, se já no andar de cima… E analisamos o que eram os estudos no Caraça, os métodos, as brincadeiras, algum rigor, as lições decoradas, o exame escrito e oral, o tempo de estudo antes de cada aula.
Depois, houve uma apresentação de fitoterápicos, de homeopatia humana e animal, por amigos convidados.
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A missa, às 11 horas, comemorou Nossa Senhora Mãe dos Homens, 240 anos do Caraça, 70 anos da AEALAC, 25 anos do Coral Crescere. Cantaram-se em latim composições muito solenes e emocionantes, que o povo ouvia sem entender e que na próxima vez poderão ser apresentadas como concerto, com os devidos créditos e explicações, em horário especial.
À noite, houve uma sessão das Academias São Vicente (dos Grandes) e São Luís (dos Pequenos). O Pe. Lauro abriu a sessão com uma quantidade de anedotas surpreendentes, porque muita gente nunca o imaginou com tais gestos e aquelas grandes palavras (por isso chamadas palavrões…). Paulo Cezar da Paz leu páginas de seu livro mais recente; Aluízio Quintão leu poemas de seu próximo livro (emocionadas memórias emocionantes!).
Fundação da AEALAC
A festa de São Vicente de Paulo, em 19 de julho de 1945, no Caraça, foi especial. Vários ex-alunos, quais aves que voltam ao ninho antigo, lá estavam e perceberam as necessidades materiais por que passava a Comunidade, consequência das carências vividas pelo país logo após a 2ª Grande Guerra Mundial.
O carinho, a gratidão e devoção ao Caraça, a generosidade e o espírito cristão transformaram-se em ousadia e desafios. Ex-alunos e amigos dos padres lazaristas se propuseram unir forças para buscar recursos não só para suprir aquele momento crítico, mas para custear, no Caraça, a permanência de atuais e futuros alunos. Estava nascendo a AEALAC, Associação dos ex-Alunos dos Lazaristas e Amigos do Caraça.
A ideia de alguma estratégia de ajuda ao Caraça tivera berço em dois encontros de confraternização de ex-alunos do Caraça e de outras casas da Congregação da Missão, em Belo Horizonte, respectivamente, em dezembro de 1942 e janeiro de 1944, quando grandes personalidades, como Juscelino Kubitscheck de Oliveira, ex-aluno do seminário de Diamantina, então prefeito de Belo Horizonte, Dr. José Sátiro da Costa e Silva e Professor Antônio Lara Resende, ex-alunos do Caraça, Dr. Lafaiete Pádua, de Petrópolis e Monsenhor João Rodrigues de Oliveira, ex-aluno do seminário de Mariana, propuseram a criação de uma “Bolsa de estudos Pe. Cruz”, para ajudar na formação de um seminarista pobre no Caraça.
Naquele 19 de julho de 1945, ao final da sessão comemorativa de São Vicente, o Professor Antônio Lara Resende dirigiu-se ao Padre Superior Provincial, desafiando-o a passar um dia em Belo Horizonte para estudarem a fundação de uma Associação de Ex-Alunos. Uma longa reunião, no dia seguinte, delineou os primeiros passos da Associação, sendo, mesmo, escolhida a sigla para sua denominação: AEALAC – Associação dos ex-Alunos dos Lazaristas e Amigos do Caraça. A reunião proposta por Lara Resende aconteceu em Belo Horizonte e, no dia 11 de outubro seguinte, festa de Nossa Senhora Mãe dos Homens, realizou-se a assembleia de fundação da AEALAC, sendo eleita sua primeira diretoria que teve como primeiro presidente o Professor Antônio Lara Resende.
Durante mais de duas décadas, a AEALAC, além do objetivo estatutário de manter os laços de amizade entre os ex-alunos, acompanhou a trajetória do Caraça, quer na ajuda financeira para manutenção de alunos carentes, quer na viabilização de recursos para reformas e melhorias na Casa.
As primeiras diretorias conduziram a Associação com humildade, sabedoria e persistência, garantindo-lhe bases sólidas e filosofia de vida bem definida.
A interrupção das atividades escolares no Caraça, em maio de 1968, transformou, naturalmente, os objetivos e metas da AEALAC. Durante mais de sete anos, a Associação ficou inoperante, tendo apenas um ex-aluno como guardião da tênue luz de sua vida. A partir de 1975, à luz da nova história do Caraça, ressurge, também, a AEALAC, contando, como desde sua fundação, com a presença, parceria e convivência da PBCM – Província Brasileira da Congregação da Missão. Os Estatutos foram renovados, adaptados à nova realidade, tendo, entretanto, sempre, como finalidade, a manutenção dos laços de amizade entre os ex-alunos dos Padres Lazaristas e, como referência, o CARAÇA.
As sucessivas diretorias têm programado e realizado atividades que reavivam a graça de ser caracense. Hoje, a AEALAC, que completou 70 anos de existência, congrega, teoricamente, milhares de ex-alunos dos padres lazaristas nas dezenas de casas de formação por onde passaram e, na prática, algumas centenas de antigos companheiros de estudos e mais um significativo número de amigos do Caraça aos quais se dirigem as palavras suaves do autor do Guia Sentimental do Caraça, nos idos de 1953: “Do Caraça estás gostando: do Caraça vais ter saudade… E o Caraça te estima tanto! Grava o teu saudoso nome no dourado livro dos amigos e benfeitores do Caraça, e acompanha, sempre que puderes, a caravana dos hodiernos magos, em demanda do presépio caracense, por cima do qual brilha docemente e não se apagará a estrela da salvação.” Isto é: participa da AEALAC. (Transcrito do álbum comemorativo dos 240 anos do Caraça, pp. 31-32).
Mariano Pereira Lopes, presidente da AEALAC