A Associação dos Ex-Alunos dos Lazaristas e Amigos do Caraça completa 70 anos. Começou em Belo Horizonte, onde reside boa parte dos que tiveram a sorte de estudar nos Seminários do Caraça, de Mariana e Diamantina. Dos que estudaram só no Colégio do Caraça, fechado em 1912, já não haverá nenhum, com um mínimo de 115 anos…
A inspiração concreta da AEALAC veio das dificuldades crônicas do seminário, isolado do mundo, com estrada precária, com energia elétrica muito insuficiente, produzida na usina do Tanque Grande, com carência de dinheiro para a alimentação dos Alunos, etc. Profissionais e empresários, sentindo gratidão pelo que haviam recebido, quando crianças e adolescentes, nas aulas do Seminário, nos seus espaços e na realidade natural da reserva biológica do Caraça, foram movidos mais pelo desejo de perpetuar a instituição que pela simples e justificada saudade do seu passado.
Ajudas como os caminhões de mantimentos que Duval de Morais e Barros enviou no imediato pós-guerra e que chegaram nas horas mais necessitadas, não eram nem nunca foram habituais, sabem-no todos os Alunos que reclamavam da broa dura de fubá, da falta de carne durante a semana, da pobreza das sobremesas, etc.
De olho no futuro do Caraça, também se pensou nas vocações, no apoio aos Alunos pobres que não poderiam pagar a mensalidade mais que modesta. Como aconteceu com Juscelino Kubitschek, ex-Aluno do Seminário de Diamantina, muitos se recordavam da ajuda que os Padres tinham dado à família carente e os resultados do apoio na hora mais decisiva. Houve muito de simbólico, no início, nas primeiras versões dos estatutos, na primeira organização, mas a associação se firmou e conseguiu durar, sobrevivendo mesmo ao incêndio de 1968 e à derrocada seguinte, quando pareceu que o Caraça não se restauraria.
A maior dificuldade da AEALAC é sempre o pequeno número de idealistas, de gente realmente comprometida, que passe dos discursos, da emoção, das saudades teóricas, para chegar aos fatos, aos encontros, às promoções, às campanhas, ao recrutamento de idealistas e à organização para concretizar os projetos.
Agora nos dias 10, 11 e 12 de outubro, a Associação organiza a Grande Caravana oficial que terá como especial motivação a festa dos 70 anos. Os interessados se organizam, reservam os quartos no Caraça ou no Engenho e compram suas passagens do trem das sete horas, que sairá de Belo Horizonte e, sem atraso de rodovias em duplicação, os deixará na estação Dois Irmãos, em Barão de Cocais, uma hora e trinta minutos depois. Um ônibus (ou dois) para acabar de chegar ao Caraça, passando pelo condomínio dos Ex-Alunos, chamado Locum Nilorum, no Sumidouro.
Os que sempre vêm talvez não se emocionem tanto, mas os que saíram daqui há 50 e mais anos terão muito o que sentir no coração, na alma, na pele, no aperto dos abraços, nas risadas recuperadas, na pena de não terem vindo sempre, de terem tardado tanto…
A lista de atividades em preparação para este ano inclui uma aula, no velho estilo insuperável do Caraça, uma sessão lítero-musical para lembrar as Academias São Luís (dos pequenos) e São Vicente (dos grandes, naquele tempo), um plantio de árvores para marcar os 70 anos, a encampação de uma praia para os Ex-Alunos (mais para seus netos, por certo, pois os adultos já não irão dar pulos na água gelada…), e tudo o que a camaradagem e a amizade sugerem: os queijos e vinhos na adega reformada, as orações daquele tempo, ainda em latim, a leitura no refeitório, o papo infinito na cantina e nas cervejas, a missa cantada, o coral, etc.
Na próxima edição, tudo isto serão fotografias, reportagem, revelações e novos planos. Como os Ex-Alunos um dia acabarão, a AEALAC procura modos de os atuais AMIGOS do Caraça aderirem à Associação e disso especialmente falaremos nos próximos números deste jornal.
Pe. Lauro Palú, C.M.