Temos pouca ideia do que foi a primeira ermida erguida no Caraça pelo Irmão Lourenço de Nossa Senhora, nosso extraordinário fundador. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire ainda a conheceu, quando veio ao Caraça em 1816, o mesmo acontecendo com Martius e Spix, em 1818, com Marianne North, em 1872, etc. Foi desfeita em 1875, aproveitando-se alguns dos seus elementos (talhas de altares e acessórios da capela) na igreja de São José do Sumidouro e noutros lugares de culto. Algumas peças estão no museu do Caraça. As imagens foram levadas para Ferros.
A igreja neogótica do Pe. Jules Clavelin foi construída na mesma posição que a ermida do Ir. Lourenço, mas aumentando muito sua superfície, extensão, largura e altura. Pelas datas referidas para a construção, 1876-1883, foi erguida rapidissimamente e muitíssimo bem feita, pois, até hoje, não apresentou nenhum problema estrutural ou de enchimento de suas estruturas. Todas as intervenções foram apenas de limpeza, pintura, troca das ardósias do teto, quebradas numa monumental chuva de pedras no final da década de 1950, e conserto de alguma goteira que propiciou infiltrações e manchas nas paredes em alguns lugares.
Há coisas muito notáveis na igreja do Caraça, como os dois altares da ermida que foram conservados, na entrada, à direita e à esquerda. O altar da esquerda foi levado para São Paulo, desmontado aqui e montado lá, na exposição dos 500 anos do Brasil, em 2000. É obra de Francisco Vieira Servas (1720-1811), artista português dedicado à talha e à escultura. Nos dois altares, a encarnação e douração das talhas foram feitas pelo mestre Ataíde, de quem a igreja possui ainda a monumental Santa Ceia (de 1828). Esta Ceia é objeto de muita bobagem que alguns guias improvisados falam a seus grupos desavisados…
O mais notável na igreja é o fato de em 7 de setembro de cada ano, no momento de o sol se pôr no horizonte, seus últimos raios irem bater diretamente no Sacrário da igreja, numa comovente homenagem cósmica ao nosso Criador e Redentor. O mesmo ocorre em março ou começo de abril, quando o sol, voltando no horizonte, depois do solstício do verão, se põe no mesmo lugar. Mas, em vários anos de observação, ainda não pude saber o dia exato deste novo espetáculo. Aliás, o fato não se repetiu nestes últimos três anos de minha atenção, porque os dias da época foram sempre nublados, chuviscosos ou enevoados. Estão cuidadosamente conservados na igreja atual as duas principais atrações da ermida do Ir. Lourenço: a preciosíssima imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens, chegada ao Caraça em 1784, e a relíquia insigne do corpo inteiro do mártir São Pio, recebido da catacumba de Santa Ciríaca de Roma, de onde saiu em 1792, tendo chegado ao Caraça em 1797.
O piso da igreja, atualmente, é de bonitos ladrilhos, estendidos como tapetes, verde, no centro e na direção das duas portas laterais, e amarronzado no restante do Santuário. Na ábside da igreja o padrão dos ladrilhos, de um verde brilhante, é diferente dos das três naves da igreja.
A maior parte do espetáculo da igreja é atribuída aos cinco vitrais historiados, de origem francesa, dos quais o central e maior foi doação de Dom Pedro II, que nos visitou em 1881, quando a igreja estava na altura das colunas e ainda não tinha a abóboda de arcos góticos leves e desafiadores.
Na igreja se celebram as missas cada dia, às 18 horas, exceto nos domingos, quando a missa é às 11 horas e sábado, às 20 horas. Ali se celebram batizados, frequentemente, alguma primeira comunhão, missas de bodas e de jubileus, alguns casamentos e vários funerais.
Padre Lauro Palú, C.M.