Escrito pelo jornalista J. D. Vital, este livro conta o fechamento do Seminário Maior de Mariana, em setembro de 1966. Vital não estudou lá, onde fui professor de um irmão dele, o Miguel, grande figura humana, cujo casamento tive a alegria de celebrar, alguns anos depois, quando trabalhei em Aparecida, São Paulo. Vital foi padrinho do casamento, e então o conheci.
Vital aproveitou os 50 anos do fechamento do seminário, para historiar o que foi um momento importante na formação do Clero brasileiro. Para isso, entrevistou formadores do Seminário, bispos ligados a Mariana, antigos alunos, os tais anjos da revoada. Também fui entrevistado, embora tivesse sido transferido para nosso seminário maior, em Petrópolis no final de julho de 1966, mês e pouco antes do fechamento.
O livro do Vital é muito sério e valioso, por referir o que os testemunhas puderam contar. Ele mesmo faz referência a que os cinquenta anos ainda são poucos, para se contar tudo, fazer as críticas todas, fica difícil… O livro é precioso sobretudo por isto, como foi ressaltado, numa introdução de João Batista Ferreira, porque o Vital não faz julgamentos, não acusa, não defende, não tomou partido, não torce os fatos, não os adapta, nem aumenta nem diminui.
Com a modernização da Igreja, desejada pelo Papa João XXIII e desencadeada pelo Concílio Vaticano II, havia que mudar muito na direção e no funcionamento dos Seminários, não só em Mariana mas no mundo inteiro. O projeto faria uma revisão completa do modo de formar os jovens de muitas dioceses que estudavam em Mariana. Vital conta que o Arcebispo havia concordado com a proposta, honesta, corajosa, séria, competente, planejada para reabrir o seminário no início de1967, com apenas 40 alunos, para que houvesse uma formação mais personalizada, acompanhada por atendimento médico, psicológico e espiritual. Não está dito claramente no livro quem mudou as peças de lugar, quem encheu a cabeça de quem, quem recuou por medo das críticas, quem pressionou contra as novas estruturas, quem se precipitou, quem… Foi um momento de muita ebulição e de grandes consequências.
Lendo o Vital, admirei seu cuidado em preservar a memória dos falecidos, o esforço de mostrar os dois lados de cada questão, a compreensão que teve do problema e das medidas propostas, do que se fez e do que não pôde ser feito, pelos rumos que as coisas tomaram. E, muito pessoalmente, devo dizer que senti muitas saudades do ambiente onde havia trabalhado um ano e meio, o início de minha vida de Padre.
Padre Lauro Palú, C.M.