No jardim do Caraça, há um repuxo, que jorra água dia e noite. Alguns turistas mais sonhadores ou mais cansados da vida às vezes se assentam numa das cadeiras de ferro do jardim ou na própria beira do laguinho do repuxo, para ficar ouvindo o barulhinho da água. Dizem que não há coisa mais repousante que isso, no mundo inteiro.
Mas no repuxo há uma coisa muito mais emocionante que o barulho da água. Assim acham as crianças e muito moleque espevitado. É que os visitantes têm o costume de jogar uma moeda na fonte, para terem sorte e voltarem ao Caraça.
Isso é costume do mundo inteiro. A principal fonte, que inspira todas as outras, é a Fontana di Trevi, em Roma. Lá, toda uma fulgurante quantidade de estátuas do mármore mais branco, esculpidas pelos artistas mais inspirados, recebe visitas, dia e noite, sem parar, de turistas do mundo inteiro, que ficam nos bares das esquinas da famosa praça, vendo a noite passar, observando a multidão colorida dos visitantes, namorados, artistas, aventureiros, andarilhos, e ninguém se afasta dali sem ter jogado de costas sua moeda, pedindo a sorte de voltar mais uma vez a Roma, à fabulosa Fontana e à sua beleza cenográfica. Bem diferente da simplicidade do jardim do Caraça.
E a criançada, sentada no murinho que contorna a fonte e o repuxo, com os pés balançando, as mãos coçando de vontade, os olhinhos reparando se ninguém está vendo e a vontade louca de entrar na água e pegar aqueles reais, aqueles cinquentões, os vinte-e-cincões que estão brilhando no fundo, alguns já meio cobertos pelos poucos limos ou pelos ciscos da água.
Quando o jardineiro faz a limpa, é um bom dinheirinho que rende, quase tudo brasileiro, reais e centavos, mas já se recolheram dracmas da Grécia, cents dos Estados Unidos, pesos, bolívares, australes latino-americanos, euros e frações de Portugal, Alemanha, Itália e França, até um rand da África do Sul. Dá para começar uma boa coleção de países.
Algum marmanjo já entrou na água fria, escorregando no pouco limo do fundo e arriscando-se a pegar uma gripe, a destroncar um pé, a quebrar o nariz (pragas que eu rogo?) por essa aventura e molecagem. É bonito ver a meninada em volta do repuxo e imaginar o que estarão imaginando, o que vão comprar se puderem pegar aqueles dinheiros: os doces, as balas, as figurinhas, a revista, o livro, as estradas, os aviões, os voos interestelares…
Padre Lauro Palú, C.M.