Às seis e meia, pontualmente (mas às vezes pouco mais cedo, dependendo do cardápio da mesa dos Padres), o Pe. Lauro Palú, diretor do Caraça, leva a bandeja com a comida do lobo-guará e põe no centro do adro da igreja. Vai empurrando a bandeja com o pé, até perto da escada, bate-a nos ladrilhos, um punhado de vezes, para o lobo escutar de longe. Ainda arrasta a bandeja sobre os ladrilhos, aproveitando a areia do chão para fazer mais barulho, e devolve-a ao centro do adro e começa a chamar, do mesmo jeito, todos os dias, os lobos. E sempre diz aos turistas que tais barulhos são mais para eles que para o lobo, pois, “se ele está longe, não adianta e, se está perto, não precisa”…
E aí é esperar. Às vezes, quem espera é o lobo, que chega um pouco antes. No horário de verão, surpreendentemente, o lobo chega bem mais cedo, às vezes ainda às cinco e meia, antes da janta dos Padres. Aí, ou espera deitado na grama do estacionamento, ou vai caçar (e só voltará bem mais tarde). E a demora é totalmente imprevisível, irregular, porque o lobo pode ter caçado coisa boa e já comeu o suficiente, ou está longe (caça de 25 a 30 quilômetros por dia, mais ativo no amanhecer e no anoitecer). Há semanas quando vem sempre cedo, a fêmea antes do lobo, ou ele antes; há semanas quando vêm muito tarde, quando todo o pessoal já foi dormir.
A bandeja é variada, mas se conhecem os gostos de lobo-guará. Primeira preferência, a carninha branca e a pele branca do peito dos frangos, que as moças da cozinha separam, quando fazem o bife de frango à milanesa. Depois, a carne crua, vinda do açougue do Artur, de Santa Bárbara, ou tirada pelas cozinheiras, – mas nunca se diz que é muxiba nem pelanca… No máximo, fala-se que é aponevrose, carne de primeiríssima… como se o lobo tivesse dessas delicadezas e exigências… A terceira preferência são os ossos de frangos e galinhas, com aquele tanto de carne bem temperada de cada osso.
A quarta carne é a cozida, assada ou frita, mas não é muito apreciada. A quinta, que eles detestam cordialmente, é quando é só pele de frango, intragável, eles acham. E a última de todas, detestada, “excomungada”, é o sebo. Se mordem um pedaço, deixam cair no chão, nem na bandeja, e ainda vão esfregar o focinho no capim, como escovando os dentes para se livrar daquele gosto nojento.
Além do lobo, tivemos durante sete anos, a visita frequente da jaratataca ou do cangambá. Parou de vir em agosto de 2013, possivelmente por causa dos cachorros-do-mato, que têm vindo toda noite, a partir de janeiro de 2014. De janeiro a março deste ano, veio quase cada noite uma anta, suprir suas necessidades de cálcio e sal… Outros bichos já apareceram, como um gato-mourisco, em janeiro de 2015; onça, que a gente saiba, ainda não apareceu, graças a Deus… Passarinhos e algumas aves, como os jacus, os gaviões caracará e carrapateiro, são frequentadores assíduos.