Pe. José Oscar Beozzo*
Por ocasião de seu ano jubilar de ordenação sacerdotal (1967-2017), Dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana, que estudou na década de 1960 no Colégio Pio Brasileiro de Roma, convidou seus colegas do Pio e da Universidade Gregoriana para um encontro no Santuário do Caraça.
Foi prontamente atendido e no fim de semana de 3 a 5 de março, com alguns já chegando de véspera, acorreram colegas, entre bispos, como Dom Demétrio Valentini, emérito da diocese de Jales, SP,, e Dom Sebastião Gameleira, emérito da diocese anglicana do Recife, PE, padres, leigos e leigas vindos do Ceará, da capital Fortaleza e do interior; da Paraíba; de Pernambuco, do Recife e do sertão; da Bahia, de São Paulo, do Distrito Federal, do Rio de Janeiro; de Minas, da capital Belo Horizonte, de Contagem e Mariana e ainda da Alemanha. Vários trouxeram seus familiares, esposa, filhos, filhas, genros, irmãs, amigos e mesmo uma netinha, a pequena Laura que, com sua vivacidade, encheu de alegria o encontro de quase três dezenas de pessoas. Os que não puderam vir lamentaram a perda do encontro e enviaram mensagens de afeto e saudades.
A festa do reencontro e da partilha das experiências de vida e de trabalho foi enriquecida por momentos de reflexão e debate. Gilberto Calcagnotto, que vive perto de Hamburgo na Alemanha, apresentou a tensa situação mundial caracterizada por nova guerra fria, com focos crescentes de guerras localizadas, que vem provocando o êxodo de milhões de deslocados e refugiados do Oriente Médio e norte da África. José Ernanne Pinheiro do CEFEP (Centro Nacional de Fé e Política Dom Hélder Câmara), em Brasília, discorreu sobre a atuação e os ensinamentos do Papa Francisco. Falou sobre sua iniciativa inédita de reunir-se com movimentos sociais do mundo todo, em busca do que chamou os três “T”, Terra, Teto e Trabalho, com vida e dignidade para todos. No discurso do terceiro e último encontro insistiu no protagonismo dos movimentos para promover as necessárias mudanças que não virão dos poderosos e sim dos pequenos, quando organizados, capazes de trocar a globalização da indiferença pela globalização da justiça e da solidariedade. José Oscar Beozzo do CESEEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular) de São Paulo, falou sobre a crescente diversificação religiosa em nível mundial, comentou a trajetória do cristianismo no último século, com o deslocamento do eixo da cristandade da Europa para a América Latina, África e Ásia, e o surgimento e difusão dos movimentos e das igrejas pentecostais e de correntes carismáticas em todas as Igrejas cristãs, com exceção das antigas Igrejas orientais e ortodoxas. Apresentou ainda um quadro das transformações no panorama religioso nacional nos últimos 50 anos e os desafios que se colocam hoje para a Igreja Católica.
Na manhãzinha e fim de tarde vários se lançaram às trilhas do Caraça, para extasiarem-se com as belezas de suas montanhas, riachos, cachoeiras e flores e com o contraste dessa área de transição entre a vegetação baixa e retorcida do cerrado e a exuberância do verde escuro da mata atlântica nas encostas.
A cada noite, o grupo participou da espera silenciosa pela chegada do lobo-guará no adro da igreja. Um pouco mais tarde, já no início da madrugada, ou bem mais cedo, ao cair da tarde, o guará não faltou ao encontro, para encanto das crianças e dos mais velhos.
O grupo ainda pôde desfrutar de instrutiva e saborosa conversa com o Pe. Lauro Palú, C M, sobre a história e a trajetória do Caraça, começando pela ermida do Irmão Lourenço, o colégio dos Padres da Missão e o seminário, que formaram gerações de homens ilustres para a Igreja e o país, e sua atual irradiação como lugar de peregrinação e de reencontro com Deus e a natureza.
O encontro terminou com uma celebração eucarística de ação de graças pela vida dos presentes e dos que não puderam vir e de intercessão por aqueles/as que já faleceram ao longo desses anos. Dom Geraldo convidou o grupo para celebrar com ele e seus diocesanos no Santuário Nacional de Aparecida, no próximo dia 13 de agosto seus 50 anos de vida sacerdotal.
*Pe. José Oscar Beozzo: historiador e teólogo, mora em São Paulo e trabalha ativamente na animação dos movimentos e entidades da Igreja.