Dia 14 de junho, pelas 10 da noite, saíram do Colégio São Vicente, no Cosme Velho, Rio de Janeiro, 108 alunos das três turmas do 3º do Ensino Médio, 55 rapazes e 53 moças, com professores e inspetores da disciplina. Como era uma excursão de fim de curso, alguns do 2º Ano, que haviam deixado a turma por reprovação nalguma série, uniram-se aos colegas, com quem tem realmente maior integração e mais amizade. Estas duas características marcaram os três dias de Caraça.
Talvez a maioria deles já viera ao Caraça na excursão do 6º Ano. Por isto, esta viagem teve um gosto especial, de lembrar a própria infância, os amigos de então, as “aventuras” da primeira vez, os gostos que foram novidade e continuaram sendo, pois o jovem de 17 ou 18 anos se sente muito distante daquela criança de 11 anos e muita inexperiência…
Quando chegaram, eu estava no restaurante, no meio do café da manhã. E foi aquele alvoroço nos corações, ao nos reencontrarmos, o Diretor que os recebi quando chegaram, com seis aninhos, e os acompanhei até o final do 7º ano, e os surpreendentes moços e moças de agora, crescidos, imensos, alegres, confiantes, certamente com alguma saudade, pelo modo como nos abraçamos e beijamos. Alguns me lembraram que o batizei, que casei os pais dele, que o avô conversava muito comigo quando o ia pegar no Colégio. Outros, os abraços e beijos que mandavam os pais e os irmãos mais velhos, já na faculdade.
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Sinto fundamente, no coração, a pena de não os ter podido acompanhar durante os 4 anos e meio desde que saí o Colégio e estou no Caraça. Mas é sempre um gosto maravilhoso olhar os rostos crescidos, rever o sorriso da criança, as covinhas no rosto, o piscar matreiro dos olhos amigos. Isso faz parte do magistério, pois os alunos passam e se vão, faz parte dos movimentos pastorais, pois os membros dos grupos também partem cada um para seu lado. E é a beleza e o sacrifício do celibato dos Padres, que se dedicam a amar e formar os filhos dos outros e os preparar para a vida, sem jamais os prender a si, na coragem do amor solidário adulto e abnegado, que ama para que sejam bons e felizes, não para os prender a si, mas para trabalhar com eles a essência de sua liberdade, da maturidade, da confiança na vida, dos olhos ansiosos pelo futuro, do coração tranquilo nas escolhas que fazem.
Uma diferença que sentiram em mim: os cabelos brancos, o cavanhaque que eu deixara crescer no mês de férias que acabava de tomar. Falavam da excursão anterior, do vestibular que farão em seguida, das vezes em que conversamos, das bênçãos que eu lhes dava cada dia ao chegarem ao Colégio, ainda lhes impondo as mãos, como quem quer tocar o coração deles e o animar para a bruta vida que aí vem, cheia de sucessos e dores, de conquistas e recuos, de amores frustrados e exaltações.
Três dias de caminhadas pelas trilhas, que agora pareciam mais curtas (as pernas maiores e mais fortes), as novidades, como a Bocaina e a Cascatona, que em pequenos não haviam visitado, e o lobo-guará que reviram ou, desta vez, tiveram a sorte de ver, com as explicações que eu dava, cada noite (“de onde é que o Pe. Lauro tira tanta informação?”), as missas de que alguns participaram no dia de Corpus Christi e no dia seguinte.
E os “mitos” que eles vão criando ou que aumentam: O lobo é o Pe. Lauro, pois, logo que ele acaba de fazer a palestra e se retira, dali a pouco o lobo aparece: É ELE! É o tempo de mudar de pele e vir!
Vendo como está essa juventude, séria, comportada, respeitosa, pura, amiga e interessada, tive exata, densa e preciosa demais, a noção da importância do trabalho que realizamos no Colégio São Vicente, que continua hoje, no Rio de Janeiro, o que foi o Colégio e o Seminário do Caraça. Sentir que os ajudei e que os ajudamos no Colégio, vale mais que ganhar sozinho a loteria! E quando se foram, nos três ônibus, senti que a saudade era de mim mesmo, de como eu era feliz quando vivíamos juntos no Rio de Janeiro. Gostei de terem visto que também estou feliz no Santuário do Caraça.
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Pe. Lauro Palú, C. M.