De 14 a 17 de setembro de 2016, aconteceu no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, o 1º Salão Nacional do Turismo Religioso, reunindo santuários, instituições de ensino, operadoras de turismo, empreendedores e formadores de opinião das áreas de serviço pastoral, turismo, hotelaria e gastronomia, por meio de exposições, oficinas, feiras, mesas redondas, conferências e debates.
Na noite do dia 14, o Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, em nome do Santuário da Piedade, deu as boas vindas aos participantes e ressaltou a importância dos Santuários (Piedade e Caraça) no desenvolvimento do turismo religioso sustentável que proporcione às pessoas uma experiência profunda de Deus e, além disto, contribua para o crescimento econômico da região.
Também estiveram na abertura do evento, o Subsecretário de Estado de Turismo, Dr. Gustavo Henrique Escobar Guimarães e o Diretor do SENAC – Minas, além das Secretárias de Cultura e Turismo das quatro cidades do projeto Entre Serras: da Piedade ao Caraça: Caeté, Barão de Cocais, Santa Bárbara e Catas Altas.
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No dia 15, Festa de Nossa Senhora da Piedade, ocorreu a mesa redonda sobre Turismo Religioso Nacional e Internacional, com a presença do Subsecretário de Turismo, citado acima, de Anderson Rocha, representante da Instituição Convention and Visitors Bureau, e de Eberhard Hans Aichinger como mediador. Ressaltaram a importância dos Santuários Católicos na história de Minas e do Brasil e discutiram o potencial que esta rota de turismo religioso, entre os dois Santuários, pode ter para a economia mineira e a visibilidade deste projeto. O Dr. Gustavo reiterou o irrestrito apoio da Secretaria de Turismo, mas também ressaltou as dificuldades financeiras pelas quais o governo vem passando em virtude da atual crise nacional.
A mesa redonda ressaltou a importância do turismo como fonte importante de geração de emprego que atende todos os níveis de escolaridade. E frisou como é urgente fortalecer a cadeia do turismo por trabalhos em conjunto. Para isto, é preciso envolver o empresariado local, que abrace a causa do turismo, pois é ele que faz esta atividade econômica acontecer.
Apontou-se que as prefeituras devem ser parceiras no fortalecimento e desenvolvimento do turismo local, não impondo dificuldades burocráticas que impossibilitem o trabalho dos pequenos empresários e produtores e apoiando os segmentos que podem crescer com o turismo: hotelaria, gastronomia, comércio, serviços etc.
Em seguida, o Padre Manoel de Oliveira Filho, do clero de Salvador, Bahia, falou da Pastoral do Turismo Religioso em Salvador. Explicou que essa Pastoral não tem como fim principal promover viagens e não é voltada só para o turismo. Pastoral é a ajuda da Igreja para quem pratica o turismo e tem como resultado o reforço das pessoas e comunidades na geração de renda.
Buscando deixar clara a proposta da Pastoral, apresentou os principais documentos da Santa Sé e da Igreja no Brasil sobre o turismo religioso. Os santuários, as igrejas de valor histórico, os museus de arte sacra e as celebrações litúrgicas da Igreja dão sentido à experiência espiritual das pessoas que buscam esses lugares por motivos diferenciados. Mas é importante que a pastoral do turismo esteja articulada com as pastorais sociais da Igreja, para não se descuidar do atendimento preferencial aos Pobres que buscam os santuários e as igrejas.
Quatro pilares sustentam a reflexão sobre a importância da Pastoral do Turismo Religioso: Difusão da religião e da cultura, base comunitária, dimensão profética e formação de agentes. A prática efetiva destes eixos norteadores gera emprego e renda, promoção humana, preservação ambiental e cultural e apoio às comunidades tradicionais.
Pe. Manoel citou quatro cuidados para que os santuários e locais de peregrinações recebam bem quem os visita: – a acolhida, com informações precisas dos horários litúrgicos, com ajuda para que os que não são devotos e os fiéis conheçam a obra e com tratamento diferenciado tanto aos turistas como aos peregrinos; – preparação para acolher bem: melhorar os caminhos, com boa acessibilidade e sinalização dos espaços de visitação; – prevenção contra ataques à natureza e ao patrimônio, contra o desrespeito à cultura e à degradação humana, usando a informação como meio de prevenção: – e, enfim, defesa dos fracos, vulneráveis e excluídos.
Na manhã do dia 16, realizou-se a mesa redonda: Entre Santuários do Brasil, com a participação dos Padres Fernando César do Nascimento e Carlos Antônio da Silva, responsáveis pelo Santuário de Nossa Senhora da Piedade, Padres Lauro Palú e Luís Carlos do Vale Fundão, diretores do Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no Caraça, e Padre José Napoleão Lauriano dos Santos, do Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento, Santa Catarina. Os padres apresentaram a origem e evolução dos Santuários, sua importância na história do Brasil e na vida do povo, com informações atualizadas de visitantes e dos serviços pastorais.
Os três Santuários possuem origens e propostas distintas, mas se complementam e oferecem aos fiéis bons roteiros de peregrinação e encontro com Deus. Os padres comentaram as dificuldades enfrentadas na administração, pelos escassos incentivos que recebem do poder público, para manutenção do patrimônio e defesa da biodiversidade que os compõe. Contudo, são unânimes em dizer que os peregrinos e visitantes é que mantêm essas obras em pé. Neste sentido, o maior trabalho, ao longo dos anos, é a formação das consciências para a utilização desses espaços como extensão da casa de cada um. É preciso, então, fazer um turismo religioso que não degrade nem destrua, seja sustentável e faça com que a renda arrecadada socorra aqueles que mais precisam.
Depois, tivemos dois importantes painéis: Turismo e Gastronomia, com a participação de Hans Eberhard e Ronie Roteiro, representantes do SENAC-Minas, e Entre Serras: da Piedade ao Caraça, primórdios de Minas. Este momento contou a participação de Isabella Ricci, representante da Agência Circuito do Ouro, de Vani Fonseca Pedrosa, pesquisadora de gastronomia pelo SENAC-Minas, e Renato Lana, representante do SEBRAE.
O primeiro painel apresentou a estreita ligação que há entre o turismo e a gastronomia. Neste quesito, fez um resgate histórico da contribuição que os dois Santuários religiosos do século XVIII deram para desenvolver a gastronomia da região das quatro cidades, mantendo-a com a riqueza e diversidade de que é composta atualmente. A vida em torno da Serra da Piedade fez com que os primeiros alimentos chegassem e fossem distribuídos para a região; além disso, foram-se desenvolvendo técnicas mais apuradas, misturando o saber europeu aos gêneros alimentícios do Brasil. E o Santuário do Caraça, por sua vez, como os grandes mosteiros europeus, buscou, por meio dos Padres portugueses e franceses, desde o início, a autossustentabilidade, que consistia em plantar, colher, moer e produzir gêneros alimentícios que pudessem alimentar os peregrinos, depois os alunos do célebre Colégio que foi o primeiro de Minas Gerais e um dos mais importantes do Brasil, e ainda hoje seus inúmeros peregrinos, hóspedes e visitantes. A gastronomia do Caraça é reconhecida hoje por seus nove pilares que compõem a mesa mineira: Vinho, pão artesanal, quitandas, queijo curado e de meia-cura feitos com leite cru, doces artesanais, hortaliças não convencionais, horta orgânica, pomar e cozinha mineira. A Serra da Piedade brinda seus peregrinos com o prestigiado queijo do frei Rosário, que é curado na própria Serra da Piedade. Assim, as quatro cidades são hoje uma grande vitrine da gastronomia mineira, por meio de seus agricultores, produtores de queijo, de quitandas, doces, farinhas etc.
O segundo painel apresentou os trabalhos desenvolvidos pela Agência Circuito do Ouro nas quatro cidades, para tornar visível ao Brasil e ao mundo o importante roteiro religioso, cultural e turístico do Entre Serras da Piedade ao Caraça.
O terceiro painel do dia 16 foi feito pelo Santuário do Caraça, com a participação do Pe. Luís Carlos do Vale Fundão, da bióloga Aline Cristine Abreu e do Professor Miguel Andrade, da Pontifícia Universidade Católica de Minas. O painel deu a conhecer um pouco mais a rica biodiversidade das Serras da Piedade e do Caraça, os trabalhos que se fazem para proteger esta região e o que se realiza no Santuário do Caraça, com seus inúmeros desafios. Demonstrou-se que a proteção efetiva do patrimônio natural só se dará pela formação da consciência de todos os que visitam e habitam este trecho das duas serras. Deu-se destaque ao trabalho que se faz na RPPN-Santuário do Caraça para proteger a biodiversidade da fauna e flora.
O 1º Salão do Turismo Religioso se encerrou com a conferência do Padre Alexandre Awi, sobre Peregrinações e Santuários, uma densa reflexão sobre a riqueza da religiosidade popular e a influência positiva que os Santuários Marianos exercem na vida dos peregrinos em todo o Brasil.
Sem dúvida, estes dias foram importantes para a história da Piedade e do Caraça, pois iniciaram atividades em comum que visarão a peregrinação, a propagação da fé, o encontro com Deus e o fortalecimento da região em todos os seus segmentos: turísticos, culturais, gastronômicos, ecológicos e econômicos. Com este seminário, abriram-se portas para outras atividades que envolverão não só o projeto Entre Serras da Piedade ao Caraça, mas também a continuação e o desenvolvimento do projeto CRER (Caminho Religioso da Estrada Real), do Rosário Entre Serras (projeto de peregrinação entre os dois Santuários), da Rota de peregrinos entre os Santuários do Brasil etc. A parceria dos Santuários, o apoio do governo em suas várias instâncias, a parceria dos pequenos produtores e empresários e a colaboração das Instituições de Ensino (PUC, SEBRAE e SENAC) serão fundamentais para se concretizar este valioso projeto que beneficiará e reforçará o crescimento econômico desta região do Estado de Minas Gerais.
Pe. Luís Carlos do Vale Fundão, C. M.