Há muitos anos se fala de o Caraça ser reconhecido como Patrimônio da Humanidade. Há duas categorias diferentes, que ressaltam o valor incomparável de bens que enriquecem a Humanidade, proclamados oficialmente como tais, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): Patrimônio Cultural da Humanidade, como Brasília, a Pampulha, os centros históricos de Ouro Preto e de Diamantina, para citar só alguns dos nossos; e Paisagens Culturais, que são lugares de importância ou beleza excepcional, onde se vê a ação da mão do Homem, como nos terraços para o cultivo do arroz nas Filipinas, as plantações de uvas de Portugal, na região do Alto-Douro e na ilha vulcânica de Pico, nos Açores.
O essencial, na classificação de uma região como paisagem cultural são as atividades e os modos de agir das populações, expressos nas formas de trabalhar, sofrer, esperar, e noutras atividades, diante do potencial aproveitável das coisas naturais em que vivemos. E também os efeitos do ambiente sobre as pessoas, efeitos de tipo religioso, artístico, sonhador ou criador em relação à natureza, vista como lugar de trabalho, estudo, passeio, diversão, convivência, celebração. Por isto se fala que paisagem cultural é o mundo trabalhado pelo desenvolvimento humano, por nossos inventos, por nossa vida.
Uma paisagem cultural valoriza o chão, o ambiente, o mundo físico, e seus habitantes, e por esta razão tem um valor grandemente educativo, levando-nos a melhorar as coisas do mundo, sua apresentação, sua preservação, etc.
Já se falava deste reconhecimento do valor do Caraça muito antes de se começar o processo da Pampulha, pelos dados que acabo de mencionar. Os próximos passos, agora, serão elencar as riquezas naturais do Caraça, completando as listas postas no Plano de Manejo de nossa Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN): abelhas, vespas e formigas, aves, mamíferos, liquens, musgos, plantas (orquídeas, bromélias, samambaias), animais ameaçados de extinção, serpentes e lagartos, etc. Em todos estes campos, a riqueza do Caraça é superlativa.
Formalizados estes princípios, devem-se depois interessar as instituições, como museus, universidades, jardins botânicos, para que apoiem e prestigiem os esforços para o reconhecimento dessa riqueza caracense. Até chegarmos um dia ao passo final, que é quando o próprio governo brasileiro assume esta bandeira e apresenta o pedido à Unesco, para seu reconhecimento oficial.
Uma vez encaminhado o pedido, a Unesco fará as visitas de conhecimento e avaliação, dará recomendações quanto ao que é necessário preparar, às vezes consertar ou substituir, para que o Caraça esteja dentro dos critérios internacionais exigidos para a sua diplomação.
A importância deste reconhecimento é imensa, porque significa uma proteção especialíssima para nossa Reserva, que fica sob certa tutela ou proteção internacional, facilitará os convênios e contratos que apoiarão o Caraça, mesmo financeiramente. Virão mais visitantes, mais gente será tocada por estas maravilhas biológicas. Haverá mais proteção, mais defesa, maior conhecimento, pelo estímulo aos pesquisadores que saberão apreciar o fato de o Caraça estar mais protegido, definitivamente. A própria região será beneficiada, pelo aumento do turismo e das atividades ligadas a ele.
Com esse reconhecimento, creio que nossa Reserva será mais protegida pelos próprios frequentadores, visitantes e hóspedes, que terão consciência do tesouro que estão visitando. Além de não depredar, cuidarão do que veem. As necessárias mudanças e os cuidados específicos serão responsabilidades da Congregação dos Padres Vicentinos, e estarão a cargo dos Funcionários, dos Amigos e Ex-Alunos, Ficar ao lado de monumentos como Brasília, Ouro Preto, será também um reconhecimento do cuidado mantido até hoje por nossa Congregação e nossa Província, desde que o Rei Dom João VI nos confiou a herança do Irmão Lourenço de Nossa Senhora e começamos a pregar as missões e a dirigir o Colégio do Caraça.
Em nossa ação simbólica pelo dia da Ecologia, cujo patrono é São Francisco de Assis, no “Sermão na montanha”, lá na colina do Calvário, convidei os participantes a fazerem a experiência deste mundo de Deus pelos cinco sentidos. Víamos a paisagem, ouvíamos os pássaros e algum grito de gente, cheirávamos as folhas da erva cidreira, do chá que iríamos tomar, e o ventinho soprava sobre nós, com delicadeza. Ser Patrimônio da Humanidade trará mais gente para sentir a presença de Deus, do Criador de tudo, neste nosso mundo encantado, que ele criou com capricho e de que continua cuidando amorosamente. De fato, a Bíblia diz: E Deus viu que tudo o que havia criado era MUITO BOM!
Pe. Lauro Palú, C. M.