Nos dias 4, 5 e 6 de setembro, estiveram no Caraça 84 Alunos e Alunas do 3º ano do Ensino Médio do Colégio São Vicente de Paulo, do Rio de Janeiro, com alguns Professores e Inspetores. Chegaram para o café da manhã. Ao voltar, saíram de noite, após a última espera do lobo-guará, no adro da igreja.
As excursões pedagógicas sempre foram um forte do Colégio, onde as atividades nunca são chamadas de extracurriculares. Podem ser extraclasse, fora de aula, mas sempre integram um currículo mais amplo que o dado em sala, com o quadro, as anotações, as provas.
A maioria dos Jovens já havia visitado o Caraça, há sete anos. E foi maravilhoso rever o Caraça, não como crianças de 11 anos e sim como adolescentes e moços, 17, 18 anos. Quanta coisa mudada!
O Caraça ainda mais bonito, o jardim bem cuidado, todos os lugares muito limpos, aquele fogão extraordinário, para os ovos e os queijos na chapa, as trilhas marcadas, roçadas de recente, e, a coisa mais admirável, como ficaram perto os lugares! Hoje, num instantinho se chega à Cascatinha, ao Banho do Belchior, aos Tabuões. Antes, parecia tão longe, dois quilômetros, quatro quilômetros, uma lonjura! E assim, de repente, perceberam como se desenvolveram, como cresceram as pernas e o coração, não foram os caminhos que encurtaram!
Desta vez, além das trilhas mais acessíveis, foram à Bocaina e à Cascatona. E já ficaram imaginando que virão, com a Família ou num grupo espontâneo de Colegas, para subir a Carapuça, o Inficionado ou o Pico do Sol, as grandes aventuras de gente grande no Caraça.
Quando se foram, na terça de noite, para chegarem ao Rio no raiar do dia 7 de setembro, levaram até os cajados que os acompanharam nas trilhas, exatamente como fizeram há sete anos. Sobretudo, cada um levou uma quantidade de experiências, de novidades, de vivências de todo tipo, aventura, namoro, comida nova, brincadeiras mais amigas, novidades nas conversas na hora do lobo-guará, novas sensações nas trilhas, mais compreensão dos processos históricos da Colônia, do Império, da República, dos fatos que hoje ocorrem em Brasília e veriam no dia seguinte no Rio de Janeiro. É tanta experiência que um menino do 6º ano, uma vez, quando voltávamos para o Rio de Janeiro e fazíamos a avaliação dos três dias, disse assim: “Puxa vida, nem sei se ainda me lembro da cara de meu Pai”… Achei fabuloso!
Quando íamos à igreja de Catas Altas, para comparar a arquitetura neogótica do Caraça e a barroca de lá, eu aproveitava a vista da frente da igreja, os Alunos e Alunas assentados na escadaria, para mostrar a serra do Caraça, aquela vista impressionante, e comentava que o Colégio deles, lá no Rio, foi construído com o dinheiro de um empréstimo do governo federal, autorizado por nosso ex-Aluno de Diamantina, Juscelino Kubitschek. Para pagar o empréstimo, foram vendidas as matas do Caraça para o carvão das siderúrgicas da região. O Colégio São Vicente tem uma dívida moral muito grande com o Caraça, por causa disso. “E quando vocês forem Presidentes da República, ou governadores, senadores, deputados, lembrem-se do Caraça, do que podem fazer por ele, para pagar essa dívida moral”.
O Colégio São Vicente foi construído pela Província Brasileira da Congregação da Missão para ser uma continuação do Caraça no Rio de Janeiro. Por isto, começou como colégio de excelência, depois explicitou uma formação crítica, de cidadania, solidariedade e engajamento social. Hoje define seu objetivo como formar agentes de transformação social.
Os Alunos gostam de ver os Professores integrados com eles nos passeios, no restaurante, no cansaço das trilhas, nas cachoeiras, e os Professores sentem os Alunos mais próximos deles, confiantes, brincalhões, amigos, não distantes, desconfiados, mas companheiros de verdade, nessas aventuras de dois, três dias.
Sempre fica muita coisa para ver na próxima vez. E vão querer ver de novo exatamente do mesmo jeito o lobo; se puderem vão querer ver a anta, os cachorros-do-mato, quem sabe até uma onça de verdade. Vão se lembrar desta excursão, ficar imaginando a próxima e fazendo inveja aos Colegas que não quiseram ou não puderam vir. As centenas de fotos vão mostrar para os Pais e os Colegas o que eles curtiram, o que não esperavam e aconteceu, tanta surpresa deste mundo silvestre, rural, que sentem que também é deles e vale a pena gozar, vale a pena defender e preservar, pois enche a gente de alegria e realização, de fantasia e saudade, tudo tão humano e humanizador.
Cada vez que eu os acompanhava, quando ainda era diretor do Colégio deles, ficava muito angustiado e triste, no dia, na tarde, na noitinha de ir embora. Agora moro aqui, mas senti multiplicada em mim essa tristeza, vendo os olhos úmidos dos Moços e das Moças, nos abraços e beijos da despedida.
Pe. Lauro Palú, C. M.
Foto: Gérson Lima