Olha a onça!
Onça-parda ou suçuarana, aqui é assim conhecida. Na América do Norte é chamada de leão-da-montanha, puma ou cougar. Este é um felino de ampla distribuição geográfica em todas as Américas, vivendo em quase todos os tipos de habitats, inclusive na periferia de grandes cidades.
Há quem duvide da existência dela aqui na baixada caracense. Eu já a ouvi ‘miando’ uma vez na minha mata, mas muitos não acreditaram. Pois bem, então segue o relato de um registro documentado: no início deste ano de 2017, ouvi dizer que uma onça havia matado carneiros na propriedade do “Sô Moço”, em Santana do Morro, também conhecida como “Ranca-Toco”. Vi uma filmagem de um animal abatido e parcialmente devorado pela suposta fera e a enviei a dois amigos meus que trabalham no IBAMA de Belo Horizonte: Mauro e Júnio, o primeiro, um eminente ornitólogo, e o segundo, grande especialista em felinos. Ficaram interessados e fomos, junto com meu monitor, Victor Hugo, à propriedade de “Sô Moço” no dia 30 de março. Lá, foram instaladas duas armadilhas fotográficas, que são câmeras programadas para filmar ou fotografar quando da passagem de algum animal. Estas armadilhas fotográficas ficaram montadas por quase dois meses, em áreas próximas do ataque aos animais domésticos. Quando foram retiradas, havia uma filmagem, registrada no dia 24 de abril, às 4h 31 da madrugada, de uma linda suçuarana, vindo em direção à câmera. Possivelmente, este era o animal que havia atacado os carneiros do “Sô Moço”.
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Para os residentes aqui na baixada caracense, o Júnio do IBAMA sugere que animais domésticos sempre durmam protegidos em recintos durante à noite e que fiquem, de preferência, próximos às residências de seus donos. A presença de cães também pode inibir o ataque de onças aos animais domésticos.
No caso de seres humanos, onde houver indícios da bichana, é sugerido não deixar crianças longe das habitações e de adultos, pois os ataques geralmente são fatais.
Em se tratando de pessoas adultas, caso alguém encontre a onça-parda pelo caminho, nunca deve correr, já que, para elas, o que corre é comida. Deve-se sempre buscar manter-se de frente para ela. Caso ela ameace ou se aproxime, tente espantá-la, gritando, atirando objetos, abrindo a camisa e ficando na ponta dos pés (para se parecer maior) e mostrando os dentes. No entanto, se o ataque for inevitável, lute. Na maioria dos casos registrados de ataques a adultos, a maior parte dos sobreviventes foi quem lutou contra a suçuarana.
Ressalto que este artigo não tem a intenção de amedrontar a ninguém da região, mas apenas alertar sobre como se proceder ao se topar com a dita cuja por aí.
Por fim, em caso de conflitos e ataques a animais domésticos, o ideal é entrar em contato com o IBAMA e com a Polícia Ambiental, que saberão lidar, de maneira apropriada, em cada situação específica.
Agradeço aos amigos Mauro e Júnio, do IBAMA, por permitirem a divulgação deste relato e da imagem da suçuarana. Também sou grato ao caríssimo Victor Hugo pela companhia em campo. Sou especialmente grato ao “Sô Moço” e a toda a sua família por permitir nosso acesso a sua propriedade.
Dr. Marcelo Ferreira de Vasconcelos. Biológo e Naturalista